A Teoria do Nada e o Conceito Budista Kuu
Budismo

A Teoria do Nada e o Conceito Budista Kuu



 O post de hoje vem do Facebook, via Marcus Vinicius Barros Reis do grupo Filosofia Budista e Budismo Nichiren, um lugar que vale a pena sempre dar uma passada quando se está online 

A TEORIA DO NADA

A visão científica

De que é constituído o Universo? Esta é, muito provavelmente, uma das primeiras perguntas que o homem fez. A primeira é, sem dúvida, sobre a origem do Universo. Não há cultura que não tenha tentado dar resposta a essas indagações. Os cientistas procuram elaborar sofisticadas teorias ou comprovações experimentais para explicar a natureza do cosmo. Para o astrofísico Hubert Reeves, nem a ciência sabe como surgiu o Universo. “Ela não sabe se o Universo teve uma origem.” A grande explosão (Big Bang, em inglês) é só uma metáfora sobre o estado do cosmo há cerca de vinte bilhões de anos. 
O questionamento sobre a constituição do Universo sempre fez parte do homem. Porém, na verdade, nem mesmo com o estudo dos átomos chegou-se a uma resposta completa. No início do século passado, o que se dizia é que o Universo era todo formado por átomos que, por sua vez, eram constituídos de prótons, elétrons e nêutrons. Mas hoje sabe-se que os prótons e nêutrons são formados por outras partículas, denominadas quarks e glúons, o que conduz à conclusão de que a matéria é formada por elétrons, quarks e glúons, mas essa conclusão não cobre tudo. A luz faz parte também deste universo, sendo denominada de fótons. Tem-se, portanto, outros ingredientes para a matéria: os elétrons, os quarks, os glúons e os fótons. Há, porém, outras partículas de um tipo diferente, produzidas em reações nucleares como as que ocorrem no Sol ou em reatores aqui na Terra, chamadas de neutrinos. Assim, tem-se átomos (com elétrons, quarks e glúons), fótons e neutrinos e muitos outros tipos. Segundo Rogério Rosenfeld, professor da Unicamp e PhD em Física pela Universidade de Chicago, o Universo tem apenas 5% de átomos, 30% de uma partícula elementar ainda desconhecida e 65% de um meio difuso (que não se concentra em galáxias) cuja origem não se conhece.


O vasto Universo contém bilhões de galáxias. Só a Via Láctea contém cerca de cem bilhões de estrelas. Durante um bom tempo, o paradigma científico afirmou que o Universo era constituído da mesma matéria do planeta Terra: átomos, fótons e neutrinos. Mas as observações do astrônomo suíço Fritz Zwicky mostraram que o peso das galáxias (ou, mais precisamente, a quantidade de massa) é cerca de cem vezes maior que o de todas as estrelas da galáxia, somadas. Ficou claro que entre as estrelas há um tipo de matéria que não irradia luz, a chamada “matéria escura”. Uma fração muito menor é de fótons e neutrinos. Logo, a maior parte do Universo não é feita do mesmo material de que nós somos feitos: os átomos. Não há uma resposta conclusiva para a constituição da maior parte do Universo. Cientistas têm se aproximado da fronteira do infinitamente pequeno, como também vem ocorrendo com a fronteira do macroscópico, o infinitamente grande. As pesquisas da dinâmica das galáxias indicam que 30% dessa composição é matéria escura, formada por um novo tipo de partícula elementar. Pela descoberta feita em 1997 (e que a revista Science considerou uma das mais importantes do século XX), sabe-se que 65% do Universo é composto por “algo difuso”, que não se concentra em galáxias e que provoca a expansão acelerada do Universo. Um estudo recente (de 2003) feito com base na análise de dados do satélite-telescópio WMAP levou à conclusão surpreendente de que 73% do peso do Universo vem do vazio. Vazio, porém, cheio de energia cósmica numa espécie de matéria escondida. As partículas que surgem, desaparecem em um tempo extremamente curto a ponto de não se perceber este efeito. Como disse o astrofísico John Bahcal, do Instituto de Estudo Avançado em Princeton: “Nós temos de aprender a entender esse Universo pouco atrativo, meio louco e implausível, pois não temos alternativa. Da matéria que existe, 85% são de um tipo que não conhecemos, e a maior parte da energia do Universo é de uma forma ainda mais bizarra. Medimos quantidades importantes, respondemos certas perguntas, e outras ainda mais desafiadoras surgiram em seu lugar. E tudo isso, ao olharmos para a primeira luz”, ou seja, os cientistas não sabem ainda qual é a constituição original do Universo. Sabem que algo existe no vácuo, o qual representa quase todo o Universo, porém é muito mais pesado que todo o resto do cosmo.



Existem muitos estudos em relação ao cosmo e uma das teorias que vem sendo estudada com maior interesse é a teoria do Big Bang. Daisaku Ikeda, presidente da SGI, em seu livro Vida — Um Enigma, uma Jóia Preciosa observa: “De acordo com os teóricos da explosão, o Universo explodiu há aproximadamente vinte bilhões de anos e todos os elementos básicos tomaram forma nos primeiros trinta minutos. Quando são levantadas questões como o que existia antes da contagem dos 20 bilhões de anos e o que causou a explosão, os proponentes dessa teoria são incapazes de responder. (...)
“Por outro lado, a teoria de um universo estático não tem sido aceita porque a idéia de uma criação infindável de nova matéria é contrária ao nosso tradicional conceito científico da física. No entanto, achamos essa teoria interessante. A idéia básica é a de uma criação contínua de nova matéria que se espalha em ondas, de modo que o cosmo se expande sem mudar a sua consistência fundamental. Não há princípio nem fim.”
Ikeda apresenta a suposição de que “o universo físico, pelo que conhecemos, tem um diâmetro de vinte bilhões de anos-luz e sua idade é de 20 bilhões de anos. São números imensos, mas pelo menos são finitos e constituem os limites físicos da cosmologia do nosso tempo. Além dessas fronteiras, podemos nos apoiar apenas na imaginação. Pode ser ainda que o nosso cosmo não passe de uma parte de um supercosmo muito mais amplo, ou talvez exista um cosmo companheiro, composto inteiramente de antimatéria. Realmente conhecemos unicamente os limites do que sabemos e não do que pode existir”.
Em relação à geometria do Universo, o que os cientistas vêm descobrindo? Um estudo realizado por um grupo liderado por Jean-Pierre Luminet, do Observatório de Paris, sugere que a geometria do Universo, numa escala gigante, pode ser de um dodecaedro esférico, composto por gomos pentagonais. 
Se uma pessoa caminhar indefinidamente à procura do “fim do Universo”, acabará voltando ao ponto de partida. Essas idéias já circulam na física desde Albert Einstein, que, com sua teoria da relatividade, propôs um modelo de cosmos esférico e fechado. Um grupo liderado por Max Tegmark, da Universidade da Pensilvânia, apontou que os dados sugeriam uma conformação finita para o Universo. “Que forma ele teria, não sabemos”, disse na época Angélica de Oliveira Costa, brasileira que participou desse estudo. Luminet parece ter dado o próximo passo, sugerindo a estrutura da bola de futebol. Traduzida para as quatro dimensões do Universo, essa formação faria com que um objeto que saísse de um dos gomos da bola emergisse em outro, do outro lado. Parece uma idéia esdrúxula, mas é a solução que apresenta hoje maior compatibilidade com os dados, segundo George Ellis, da Universidade da Cidade do Cabo, África do Sul, que comentou o estudo publicado na revista Nature. Em conclusão, mesmo a geometria do Universo continua a ser um enigma.

A visão budista — o conceito de kuu


O budismo considera todas as coisas como fenômenos. E nenhum fenômeno possui natureza imutável ou independente. É isso o que expressa o conceito de kuu (shunya ou shunyata, em sânscrito), comumente traduzido como vácuo, vazio, não-substancialidade, latência ou nada. Porém, nenhuma dessas traduções é satisfatória. Alguns estudiosos ocidentais do budismo deram ao termo uma outra versão: relatividade. Porém, na obra Vida — Um Enigma, uma Jóia Preciosa, Daisaku Ikeda observa que essa tradução “tende a associá-lo à ciência dos físicos e, conseqüentemente, ao mundo material”.
O conceito budista de kuu está associado a um outro chamado de origem dependente, isto é, de que todos os fenômenos ou entidades ocorrem somente por meio do relacionamento com outros e, conseqüentemente, não possuem uma natureza isolada nem existem por si só. Portanto, a verdadeira natureza de todos os fenômenos é a da não-substancialidade e, estes, não podem ser definidos somente sob a ótica dos conceitos de existência e inexistência. Nagarjuna, um erudito do Budismo Mahayana e um dos principais discípulos sucessores de Sakyamuni, explanou este conceito da não-substancialidade como sendo o do Caminho do Meio, mostrando os extremos que representam as categorias de existência e de não-existência. Vejamos como exemplo o sentimento humano. O sentimento certamente existe na vida das pessoas. Entretanto, enquanto dormem, ele parece não mais existir. Mas, ao acordarem, imediatamente ele se manifesta. Assim, torna-se difícil defini-lo como existência e como inexistência. Embora sua existência pareça ser inegável, no momento seguinte ele desaparece, e vice-versa. Qual seria então a verdade sobre este fenômeno: existência ou não-existência? O conceito de kuu se aplica exatamente a estas situações em que a análise da existência e da não-existência não leva a uma conclusão.


Em “Sobre atingir o estado de Buda nesta existência”, Nichiren Daishonin afirma: “Qual é então o significado de myo? Myo é simplesmente a misteriosa natureza de nossa vida a cada instante, que a mente não consegue compreender e que não pode ser expressa em palavras. Quando observamos nossa própria mente em qualquer momento, não percebemos a cor nem a forma para comprovar sua existência. No entanto, não podemos dizer que ela não existe pelo fato de incessantes pensamentos nos ocorrer. A mente não pode ser considerada como algo existente nem inexistente. A vida é de fato uma realidade que transcende tanto as palavras como os conceitos de existência e inexistência. Ela não é nem existência nem inexistência, no entanto, mostra características de ambas. É a entidade mística do Caminho do Meio, ou seja, a realidade fundamental. Myo é o nome dado à natureza mística da vida, e ho, a suas manifestações.” 

O objetivo prático que está por trás desta idéia da não-substancialidade é a da eliminação dos apegos a fenômenos transitórios e ao próprio ego, isto é, a percepção de ser uma identidade independente e imutável. 
O princípio de três percepções da verdade, ou simplesmente três verdades (santai), ajuda na compreensão do conceito de kuu. De acordo com este princípio, a realidade última de todo e qualquer fenômeno é formada pelas três percepções da verdade: a verdade da não-substancialidade (kuu-tai), a verdade da existência temporária (ke-tai) e a verdade do caminho do meio (tyu-tai). A verdade da não-substancialidade significa que nenhum fenômeno possui uma existência por si só; sua verdadeira natureza é a da não-substancialidade e não pode ser definida somente em termos de existência ou de não-existência. A verdade da existência temporária significa que todos os fenômenos, apesar da não-substancialidade, possuem uma realidade temporária que está em constante mutação. A verdade do caminho do meio significa que a verdadeira natureza de todos os fenômenos não é nem a da não-substancialidade nem a da realidade temporária, pois ambas se manifestam sempre. Portanto, o caminho do meio é a essência de tudo contida tanto no seu estado manifesto como latente.
Fazendo um comparativo com o corpo humano, da mesma forma que ocorre no macrocosmo, as pessoas também não percebem, mas a cada instante, nascem e morrem várias e várias células sadias ou destrutivas. Não se pode dizer que um indivívuo não tem células destrutivas, pois o câncer pode se manifestar repentinamente, assim como doenças inéditas podem se desenvolver de uma forma jamais imaginada por ele. Do mesmo modo, existem tipos de vírus que a cada dia, surpreendem a todos dificultando encontrar soluções a curto prazo, por ter sua origem desconhecida. Enfim, não se sabe de toda potencialidade existente em todo Universo, porque a cada instante pode-se conhecer novas galáxias, planetas, estrelas, cada qual com seu despertar natural, que é essa vida e morte ininterrupta e dinâmica. Um entendimento mais completo sobre o conceito de kuu dificilmente poderá ser realizado somente por estudos científicos. Por outro lado a ciência vem se aproximando do conceito que o budismo chama de kuu, de que a vida é eterna, ela sempre existiu e existirá.



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