Cortar a raiz
Budismo

Cortar a raiz




5) Eu vejo muita dificuldade em cortar a raiz.

Saikawa Roshi – Eu vi num noticiário que há um conflito no Paquistão. Alguém deu um coração da filha morta para transplante. Se você assim o desejar pode dar o coração para qualquer pessoa, mesmo seu inimigo. O problema é o conceito de inimigo que o impede.

** Comentário de Monge Genshô – O que Roshi está querendo dizer é que se amanhã judeus e palestinos perdessem suas memórias, seus conceitos, tudo estaria resolvido, pois quando se olha para uma pessoa sem saber sua nacionalidade ou religião, elas são iguais.

Os ensinamentos de Buda tentam disseminar paz e harmonia ensinando a ver a realidade, ver a raiz da realidade. Costumamos dizer que nascemos, nós não nascemos, é a vida que nasce, porem a vida não nasce do nada, é pura transmissão, na verdade sua vida é infinita. É difícil viver no mundo dessa maneira, as pessoas não entenderiam, pois esse mundo é dualista. Por isso dizemos “eu nasci em tal data”.

6) Eu não entendo muito bem essa parte, nós já existíamos antes como parte do todo, ou passamos a existir a partir da união dos pais?

Roshi – Shakyamuni Buda foi perguntado sobre passado e futuro e ele não deu resposta. Algumas poucas vezes ele respondeu em outras ficou em silêncio. Para nós o que importa é esse momento, prestar atenção somente a esse momento é o que realmente importa.

** Comentário de Monge Genshô – Sua pergunta seria, “eu existia separado antes de meus pais”? Esse é o desejo do ego, ter existência própria. Ter existido antes e continuar a existir depois.

A separação existe, eu sou separado de Genshô e ele é separado de mim e de vocês. E somos todos diferentes. Esse mundo é dualístico. Mas ao ver a divisão você perde de vista a unidade.

7)  Embora já existíssemos antes, o momento da concepção é quando se juntam pai e mãe, então, como é isso de verdade? Existíamos antes, mas passamos a existir de fato no momento da concepção, como isso funciona?

Roshi – Essa idéia de eu e os outros é que não é boa. Não há eu e os outros, começo ou fim. Se você entende como nascimento, você irá morrer. Mas no círculo não existem nascimentos ou mortes, em todos os pontos há nascimento e há morte, então de verdade não há nascimento ou morte, vida ou destruição.

** Comentário de Monge Genshô – O que ele está explicando é que na dimensão histórica existem nascimento e morte, vida e destruição, certo e errado, bom e ruim. Mas na dimensão suprema não, é como ele acabou de explicar no Sutra do Coração, na parte em que nega a existência de tudo, no mundo do Dharma nada é puro ou impuro, nada nasce ou morre, justamente para que não surja esse tipo de pergunta, não existe começo ou fim. Onde estava você antes das duas células se juntarem?

O koan, “qual a sua face antes de seus pais nascerem?” parece falar sobre passado e futuro, mas não é isso. Quase todos os koans não podem ser respondidos através da mente racional e dualística. É impossível. Se você se concentrar nesse koan não conseguirá respondê-lo com sua mente racional. Para respondê-lo você deve entrar no mundo não dual. O koan irá guiá-lo para o mundo não dual.

** Comentário de Monge Genshô – De certa forma, seus avós e seus pais estão aqui.  Roshi please, Do you understand? It’s ok?

Roshi – Anyway it’s ok, I don’t understand. (De qualquer jeito está bem, eu não entendo mesmo)
(Final)



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