Budismo
Estado de Bodhisattva
"Dando continuidade ao estudo dos Dez Estados de Vida chegamos ao nono estado, o Estado de Bodhisattva (Bosatsu).
Uma pessoa na condição de vida de Bodhisattva manifesta uma vida plena de benevolência, pois sua característica é dedicar-se à felicidade das demais.
Literalmente Bodhi significa sabedoria do Buda, e sattva, seres sensíveis. De acordo com a escritura budista, Butsujikyo Ron, sattva também significa valor. Desta forma, “bodhisattva” significava originalmente aquele que corajosamente aspira pela iluminação. O Estado de Bodhisattva é caracterizado pelas açoes altruísticas. Na “Causalidade nos Dez Estados de Vida” lê-se: “Aqueles no Estado de Bodhisattva” vivem entre os mortais comuns dos seis caminhos e humilham-se respeitando os outros. Os bodhisattvas atraem as maldades para si e dão benefícios aos outros. “Este é um estado de benevolência de querer salvar aos outros de seus sofrimentos mesmo que isto lhes custe a vida, e, ao mesmo tempo, objetiva atingir a iluminação através da prática budista. Portanto, benevolência neste caso, difere do conceito comumente interpretado como compaixão.
Uma pessoa que age baseada na compaixão, pode ajudar outras pessoas que se encontram em dificuldades, por exemplo, através de um empréstimo de dinheiro, consolando-as com palavras, etc., porém essas coisas não são soluções definitivas para os problemas que estas enfrentam, são medidas ou ações com efeitos temporários. Para erradicar os sofrimentos de uma pessoa é necessário algo que tenha o poder de “mexer” com a vida desta, fazer manifestar a força inerente da vida, ou seja, o Nam-myoho-renge-kyo ou Estado de Buda. Exemplificando a verdadeira ação de Bodhisattva podemos citar o amor materno. Uma mãe, por causa de seu filho, deseja dedicar-se ao seu crescimento e felicidade, mesmo às custas da sua própia vida. Se seu filho está com febre ou de mau humor, ela sente grandes sofrimentos para encorajá-lo ou trazer-lhe boa saúde. Ela fica mais preocupada do quando ela própia esta doente.
O Estado de Bodhisattva é apoiado pelo poder de “jihi” que corresponde a “aliviar o sofrimento e dar felicidade” ou seja uma ação benevolente. O poder de “jihi” não é outro senão o da energia vital que emana da mais íntima profundeza da vida. Portanto, dentro dele estão incluídas: sabedoria, consciência, razão e uma variedade de desejos espirituais. O “eu”da vida está no Estado de Bodhisattva somente quando uma sabedoria natural e envolvente como, o amor, um forte desejo, o entusiasmo e a coragem de enfrentar quaisquer obstáculos estão fundidos com a energia de “jihi” e assim pode-se desempenhar a função unificada da benevolência altruística. É benefício não somente para os outros como também para si mesmo. O comportamento benevolente é o caminho para a auto-perfeição, que leva automaticamente a um desenvolvimento do caráter humano.
Há uma diferença fundamental entre o estado de “Nijo” (Erudição e Absorção) e o de Bodhisattva, por que uma pessoa na condição de Nijo põe maior ênfase na teoria do que na prática. Preferem usar especulação e a perspicácia sem a prática. Em contraste, as pessoas no Estado de Bodhisattva dão prioridade à prática. Sua especulação é muito profunda e a perspicácia, aguda, sendo que essas duas coisas estão inteiramente unidas à prática.
Fazer manifestar a condição de Bodhisattva não é algo fácil. A prática de Bodhisattva necessita de coragem para enfrentar todas as fontes do mal. As pessoas nesta condição de vida devem sempre ter a coragem que lhes possibilitem superar o mal que esconde em sua própria vida e na dos outros. Superando-o, elas se tornam atenciosas para com as outras e assim fazem tudo o que podem para a felicidade de todos. Tal esforço incansável subjuga o egoísmo inato da pessoa e faz seu verdadeiro eu brilhar. Esta luz de sabedoria emitida pelo eu assim polido iluminará até mesmo a natureza maldosa que opera na vida das outras pessoas. A sabedoria adquirida através de tal prática altruística é a verdadeira sabedoria característica do Estado de Bodhisattva. Ajudar os outros significa enfrentar a sua própria mente egoísta. Quanto mais altruístas se tornam nossas ações, mais fortes crescem as forças ativantes da razão, consciência, amor e desejos espirituais.
O 15º capítulo do sutra de Lótus (Yujutsu) refere-se aos Bodhisattvas da Terra, descritos neste sutra como pessoas que emergiram da terra. A “terra” que está usada no sentido figurativo na frase significa as profundezas últimas da vida, a Lei Mística que é a própia energia vital cósmica. A Lei Mística existe dentro da nossa vida. A esta, o Budismo chama de natureza de Buda. Podemos expressar as ações de Bodhisattva da Terra precisamente porque o Buda manifesta seu imenso poder essencial na forma tangível em todas as nossas atividades da vida diária.
Todos os Bodhisattvas fazem quatro grandes juramentos quando tentam pela primeira vez a prática de bodhisattva para atingirem a iluminação. Os quatro grandes juramentos são:
1) Transportar todas as pessoas no mar dos sofrimentos para a distante praia da iluminação;
2) erradicar todos os desejos mundanos;
3) dominar todos os ensinos budistas;
4) atingir a suprema iluminação.
Nos ensinos pré - Sutra de Lótus, muitas existências de práticas de Bodhisattva eram necessárias para se atingir a iluminação, mas o Sutra de Lótus revelou que uma pessoa poderia atingir o Estado de Buda nesta existência ao abraçar a Lei Mística.
Os Bodhisattvas da Terra, quando vistos em termos da sua atividade prática, são aqueles que dedicam toda a sua energia para a felicidade das outras pessoas. Em essência, todavia, em suas vidas está manifestada a natureza do Buda.
Um praticante do Verdadeiro Budismo de Nichiren Daishonin ao falar para outras pessoas sobre a grandiosidade da força do Gohonzon, mostrando-lhes o verdadeiro caminho para a felicidade, está agindo da mesma forma que esses Bodhisattvas da Terra. O que essas pessoas podem sentir é incomparavelmente mais profundo do que os sentimentos daqueles que estão em outro estado de vida. Conforme o Presidente Ikeda afirma em seu “Diálogos Sobre a Vida”: Este sentimento é o maior de todos os tipos de alegria. É realmente além da descrição, mas ousaria descreve-la como uma alegria livre e espontânea que emana de dentro da mais íntima profundeza da vida. Viver neste próprio mundo não é senão a alegria... Em tal condição, a velhice, a doença e a morte não são mais sofrimentos. Antes disso, tornam-se fontes de alegria.
Em sínte-se a prática do Chakubuku é a expressão máxima do sentimento de benevolência, ou seja, é a prática de Bodhisattva.
A época tão turbulenta e problemática em que vivemos, é qualificada de época da perda do humanismo justamente porque falta este espírito de benevolência, a prática da fé própriamente é a propagação e o Chakubuku. Na verdade como é estudado no Budismo, as circunstâncias e o ambiente são reflexos da condição de vida das próprias pessoas. Assim sendo, para se obter um resultado positivo quanto aos problemas que afligem a todos, é necessário elevar o estado de vida das pessoas através de um verdadeiro ensino. No Gosho “Resposta ao Lorde Nanjo” consta a seguinte frase: “Desde que a lei é suprema, a pessoa é digna de respeito, e desde que a pessoa é digna de respeito, a terra é sagrada.” O ato benevolente do Chakubuku é um ato de justiça que afirma claramente o correto e o errado.
Todos os dias, de manha e à noite, os praticantes do verdadeiro Budismo oram pelo Chakubuku, manifestando a condição de Bodhisattva, na parte final do 2º capítulo Juryo do Sutra de Lótus: “Mai-ji-sa-ze-nem. I-ga-lho-chu-jô. Tôcunhu-mu-jô-dô. Sôcu-jô- ju-bushin” (medito constantemente: como levar a humanidade no caminho da eternidade e ser Buda rapidamente). O Estado de Buda, é uma condição ideal que uma pessoa pode atingir, através de suas atividades altruístas ( de Bodhisattva). Em outras palavras, o Estado de Buda surge, em termos de vida diária, como ações de Bodhisattva. É por esta razão que se diz que o caminho ou o meio mais direto e rápido para se atingir o Estado de buda é através da prática do Chakubuku, a manifestação da condição de Bodhisattva."
Fonte: T.C. nº 273 pág. 45 a 47 de 5/91
Seleção de texto: Doralice e Paulo Bruno. 03/06/97
Digitação e arte- Paulo Bruno
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