Budismo
Minimizar o sofrimento que causamos ao viver
Pergunta – Usando o exemplo que o senhor deu sobre alguém entrar aqui com a intenção de matar alguém ou todos. Eu venho por trás dele e o mato antes, como fica meu carma?
Monge Genshô – São dois eventos diferentes, no primeiro você salvou a vida de todos e no outro você matou alguém. A família dele vai odiar você e há nisso uma retribuição cármica. Mas por outro lado há o bom carma pelo fato de teres salvado muitas vidas. Essa é uma historia clássica no Zen, a do Boddhisatva que matou um homem para salvar quinhentas vidas. Ele assume o carma ruim para beneficiar quinhentas pessoas.
Pergunta – Ela também poderia atrair um carma pela omissão, não é?
Monge Genshô – Sim. Na verdade é uma situação sem saída. Se faz algo como matar o homem, produz um carma, se não faz nada e as pessoas morrem, produz outro carma. Você deve escolher. Mas não existe a escolha de viver sem problemas. Assim é a vida, você não conseguirá evitar todo o sofrimento. Nos tempos de Buddha os Jainistas, faziam oposição ao budismo e o desejo deles era evitar todo o tipo de sofrimento. Alguns chegam a não usar roupas, pois para isso tem que plantar algodão e com isso matar insetos, logo, eles andam vestidos de vento, não usam roupas. Quando caminhavam varriam o chão à sua frente para não pisar em nenhum ser vivo e coavam a água com o mesmo objetivo, que toda e qualquer forma de vida fosse salva do sofrimento. É impossível evitar todo o sofrimento, veja nosso corpo, por exemplo, ele está constantemente matando vidas microscópicas para que você possa estar bem de saúde. Se você tentar levar sua vida a esse extremo, não poderá continuar vivo, pois viver implica em causar sofrimento. O que podemos fazer é minimizar o sofrimento que causamos pelo simples fato de existirmos.
Pergunta – No meu modo de entender o Zen, é como se ele fosse na veia, direto. Já estive em outras escolas, e lá existem vários tipos de meditação. O senhor poderia explicar melhor essa diferença entre as escolas?
Monge Genshô – Existem diferentes métodos porque existem pessoas diferentes com diferentes necessidades. Para algumas pessoas o Budismo Tibetano é melhor. Isso é tão claro e evidente que quando você entra numa Sangha Tibetana e entra numa Sangha Zen, consegue perceber a diferença pela expressão facial das pessoas, o sistema de treinamento as vai alterando. Isso é para tudo, não só para os Tibetanos ou Zen Budistas, serve para evangélicos, católicos ou protestantes. O Zen é chamado Caminho Direto e não é uma prática destinada à todos. Foi concebida como uma prática monástica e para os poucos que desejavam se retirar para montanhas e treinar com mestres extremamente exigentes. Um grande mestre, Bodhidharma, deixava os pretendentes a alunos esperando no lado de fora de sua caverna, na neve, e não os recebia. Só recebeu Taiso Eka, porque este cortou seu braço. É natural que sejamos poucos.
(Final da palestra, decupada da gravação por Chudô San em 2013)
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