Na cidade com mãos auxiliadoras
Budismo

Na cidade com mãos auxiliadoras


                                 Ele capturou, domou e enfim se livrou do boi e de si mesmo

No décimo passo, “Na cidade com mãos auxiliadoras”, a figura nos mostra um homem em uma feira, se misturando ao mundo. A imagem mostra um homem gordo, barrigudo, despreocupado, a quem nada importa sua aparência pessoal. Está descalço, peito à mostra, sem se importar de que forma está vestido. Tudo isso simboliza sua nudez mental. Leva uma cesta que contém algo para as pessoas da cidade. Seu único pensamento é levar alegria aos demais. Mas o que ele leva no cesto? Talvez o vinho da vida. Finalmente, segundo Sekida, o mundo do antagonismo se dissolveu, o modo habitual de consciência caiu por completo. Já não leva você o antigo traje de cerimônias, vai descalço com o peito desnudo, tudo é bem-vindo. Pensamentos errantes? Tudo bem, essa é a grande meditação de Budha e a forma de consciência mais ativa. Goza da perfeita liberdade do samadhi lúdico, positivo. Junto aos homens vulgares ele fala vulgaridades, mas a seus passos árvores secas florescem. Libertou-se.

 Para nós todos aqui, o mais importante são os passos iniciais. A prática do samadhi (concentração meditativa), a experiência de kensho (experiência mística), o futuro satori (despertar), para quem chegar lá. Samadhi é com esforço, kensho acontece, não adianta querer que ele aconteça, ele irá acontecer sozinho. Satori e o caminho de Buddha ocorrerão porque entramos em uma torrente cármica e ela nos arrasta.

Pergunta: O que acontece se depois de longa preparação o praticante, não tendo chegado ao satori, mas tendo adquirido kensho, morre? Essa experiência, essa bagagem, seguem para a nova existência?

Monge Gensho: Seguem. Na próxima manifestação kármica, o que vai acontecer é que essa pessoa pode, já na infância, ter experiência de kensho. Pode perdê-lo, andar para trás, mas a atração dele pelo Dharma é muito forte. Isso é como reconhecer o seu lugar. Você chega no lugar de treinar e diz: “Esse é meu lugar, minha casa, não quero mais sair daqui”. Essa marca kármica é muito importante no treinamento. Muitas pessoas vão na Sangha no horário do meio-dia, elas podem ter uma experiência minúscula, mas essa experiência já se torna uma marca kármica. Pode ser que ela venha a praticar. Se ela já possui uma marca anterior, ela volta para praticar. Provavelmente, todos que estão aqui hoje já praticaram em vidas anteriores, senão não conseguiriam ficar. Por que fica uma pessoa de cada cem que vão à Sangha? Quem vem a sesshins, faz rakusu. Fazer rakusu é uma coisa fantástica. Porque ele fez e colocou no peito, isso é uma marca. Teve todo o trabalho para fazer, reverencia o rakusu. O rakusu cria uma grande marca na gente, o manto também. E é uma marca kármica.
 Há uma história famosa de uma prostituta. Os ladrões roubaram o manto de um monge. Levaram para um cabaré e pediram para que uma prostituta dançasse enquanto tirava o manto. Ela se enrolou no manto e começou a dançar e tirar o manto. Por causa disso, em sua outra vida ela nasceu em uma família budista. Se sentiu atraída pelo Dharma e tornou-se uma monja. No momento da dança, parecia uma heresia, um sacrilégio, mas esse momento criou uma marca kármica.



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