Budismo
Nada é resolvido com a explicação
4) Monge, esse sofrimento que o Budismo enfatiza sempre, como lidar com isso no dia a dia, onde passamos por situações que pensamos que não vão acabar e como conseguiremos perdoar as coisas que nos causam sofrimento sem enrijecer o coração? Porque no Budismo, tenho a impressão de que sempre tudo a gente tem que resolver, o problema é sempre nosso, e é difícil as vezes lidar com isso porque há terceiros envolvidos o tempo inteiro.
R: Claro que tem terceiros envolvidos o tempo inteiro. Mas, a iluminação é sua. Ela não é transmissível, assim como a sabedoria não é transmissível. As pessoas dizem: “me explique”. E eu digo: como você pode explicar o gosto do sal, para uma pessoa que nunca provou o sal? A única coisa que você pode dizer é: pegue um pouco e coloque na boca. Aí se a pessoa provar dirá: "Ah! Esse é o gosto do sal!" Está tudo resolvido. É tudo resolvido com a experiência e nada é resolvido com a explicação. Eu posso falar sobre o ZEN aqui, mas o ZEN não está aqui. É como olhar o mapa de Paris e depois dizer: “eu viajei a Paris”. Vocês acham que é lícito, é legítimo? Não há nada. Aquelas pessoas que lêem sobre o ZEN ou sobre budismo e sentam numa mesa de bar na frente de um copo de chopp e explicam para os outros sobre Koans e teorias maravilhosas, eles não sabem nada sobre o ZEN. Eles olharam o mapa e estão querendo dizer que viajaram. A única coisa realmente válida é a experiência. Por isso Buda disse: “não acredite em mim”. E é a mesma coisa que eu estou dizendo: “não acreditem em mim”. Eu posso expor raciocínios bem claros, vocês podem acompanhar, eu espero que eles abalem suas crenças.
Estava fazendo uma palestra na Universidade Federal em Florianópolis e uma mulher disse: “Mas o Senhor não acredita em nada?” Respondi: - "Mas o ZEN não é religião de acreditar, o ZEN é religião de despertar." É outra coisa. Mas não nos preocupamos com as pessoas que estão mergulhadas em ilusões. Às vezes as ilusões são tão confortáveis! Como no cartoon onde aparecem dois guichês assim: “Mentiras confortadoras”. E do outro lado: “Verdades desconfortáveis”. Todo mundo vai na mentira consoladora, não é? Porque verdade desconfortável não é pra muita gente.
(Palestra decupada da gravação por Rachel San)
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