Budismo
Os jogos da vida
Na realidade nós sabemos que há continuidade das coisas, que nada cessa, que tudo continua. Que onde há uma onda, há outra onda. Que onde há atmosfera, há ventos. Onde há água há ondas. Por isso dizemos: a “forma” é a própria vacuidade e a vacuidade é a própria forma”. Uma não é diferente da outra. Nós somos a própria vida se manifestando. Nós pensamos: “eu vivo minha vida”. Não é verdade. A vida é que nos vive. Completamente diferente.
Quando “Joshu”, grande mestre zen, estava morrendo, lhe perguntaram: “Para onde o Senhor vai? E ele disse: não há nenhum lugar para ir”.
De onde saem as agitações da nossa mente? Da nossa crença nos jogos da vida. A vida é constituída de muitos jogos com os quais nós nos comprometemos. Por exemplo quando as pessoas começam a torcer por um time de futebol. E o time de futebol tem bandeira, hino, camiseta, cor, nós podemos nos comprometer com o jogo do time de futebol e começar a torcer por ele. Há gente que começa a torcer e se compromete tanto com aquela paixão que é capaz de sair do jogo e brigar com o torcedor do time oposto e são capazes de matar ou morrer. Não é verdade? Nós sabemos que é assim.
No entanto o jogo foi uma fantasia criada em algum momento e nós acreditamos nela. Todo o resto da vida também é constituído assim. Nós entramos numa empresa e o que que é uma empresa? Um jogo. É toda uma armação como um time, um nome, uma meta e vamos lutar por aquilo e nos comprometer. Se alguém nos diz uma palavra desagradável, não dormimos direito de noite. Se não atingimos nossa meta, nos sentimos frustrados. No entanto, quem se lembrará das nossas vitórias? Das nossas derrotas?
Há uma pergunta que eu já fiz para milhares de pessoas. Vamos testar aqui de novo. Seus pais e avós, são pessoas importantes para vocês? Quem acha que não são importantes levanta a mão. Todos acham que são importantes... Muito importantes para vocês? Então seus bisavós também, pois são os pais dos seus avós. Por favor, cada um de vocês tem oito bisavós. Alguém sabe o nome dos oito? Levanta e diz pra mim.
Ninguém na platéia se levanta, porque ninguém sabe. Por que ninguém sabe? Vocês pensam que são importantes. Mas eu tenho uma notícia para vocês. Sangue do seu sangue, carne da sua carne, seus descendentes, seus bisnetos não lembrarão nem o nome de vocês. Muito menos das suas humilhações, derrotas, vitórias... não lembrarão. Vocês serão esquecidos. Por que vocês acham que são importantes?
Quando acontece alguma coisa, você sempre pode dizer: “daqui a cem anos, ninguém vai lembrar”.
E por que a gente se importa tanto? Porque nós entramos no jogo, entramos com aquela paixão, de nos comprometer por um jogo como nos comprometemos com um time de futebol. Os jogos da vida são apenas o que são. Jogos. As paixões são assim, os amores são assim, os empregos são assim.
Todas as coisas que nos parecem importantes, na verdade não são. O que seria realmente importante? Não é a poeira que o redemoinho levantou. A única coisa realmente importante, é o “céu azul”. Ele vai estar lá depois que todos os redemoinhos passarem. Depois que todas as nuvens e tempestades soprarem, ventarem, choverem, o céu azul estará lá.
Na verdade, nós somos eternos, só não somos eternos como indivíduos. Só que queremos ser eternos como indivíduos como eus.
Quando entra um aluno na sala querendo aprender sobre o ZEN, na verdade eu tenho pena. Porque tudo que vai acontecer é uma destruição. Ele faz perguntas e recebe respostas terríveis. Tudo que era precioso para ele, vai embora. Como a sua crença de que seus antepassados são importantes para vocês. Não são. Se fossem você lembraria dos nomes dos bisavós. Vocês só lembram do nome daqueles que vocês conheceram, no fundo, é ou não é? Se não viram fisicamente, grande é a chance de não lembrar os seus nomes. Aliás em dez gerações seriam 1024, alguma chance de saber os nomes e biografias?
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