Pequenas decisões
Budismo

Pequenas decisões



1) Quando sentamos sozinhos em casa, vemos a diferença de sentar no templo, sua energia. Essa condição que o senhor falou, de não ficar sentado e transmitir o Dharma, não seria muito mais quando a gente propicia um espaço, um local, cria a condição? Temos vários grupos, o Senhor mesmo tem grupos ligados ao Senhor pelo Brasil todo.

Monge Genshô – São pequenos grupos e eles só existem porque alguém sentiu vontade de criar um espaço para que as pessoas pudessem sentar. A atuação que podemos fazer no mundo depende de nossos talentos. Cada discípulo de Buda tinha um talento diferente. Mahakashyapa era melhor em práticas ascéticas, ele prometeu jamais deitar-se, dormia sentado na posição de zazen. Shariputra ficou conhecido por sua sabedoria. Purna era o melhor pregador, um grande orador. Nós temos talentos e devemos usá-los em beneficio de todos, para que nossas vidas não sejam desperdiçadas.

Fazer votos é a maneira de nos comprometermos de usar nossos talentos de forma compassiva e para ajudar os outros seres. Nenhum de nós irá escapar de ter medo, Buda teve e, como contei para vocês, as roupas de Monge me pareceram um abismo. Penso que vocês concordam, que bom que eu pulei, foi bom, hoje eu vejo isso, a melhor coisa para minha vida. Hoje vejo que meu tempo de vida é curto para tudo que gostaria de realizar. Então, preciso que outros saibam usar o manto e seus próprios talentos para que isso possa continuar. Quando realizei minha primeira palestra em 2002 em Florianópolis, não havia nenhum praticante do Zen em todo o Estado de Santa Catarina. Hoje temos ao nosso lado nesse sesshin, Fukuda San, ele é descendente de uma longa tradição, o pai dele era Monge, ele nasceu em um templo, mas para estar nessa condição, outros abriram caminho antes dele. Ele pôde ir para uma Universidade, existe uma enorme estrutura, mas como começou? Começou com Dogen, oitocentos anos atrás. Vocês assistiram o filme, Dogen foi à China, voltou, sofreu perseguições, teve seu templo incendiado e morreu com cinquenta e três anos. Mas por causa de Dogen estamos aqui hoje. Dogen só foi à China porque Bodhidharma foi da Índia para a China ensinar o Budismo no ano 600 d.C.. Bodhidharma só foi para China porque Buda se levantou e costurou seu manto. Qualquer um deles poderia ter interrompido essa história e nenhum de vocês estaria sentado aqui hoje. É delicada a história, uma pequena decisão poderia mudar tudo.

2) Escutando essa história de sua decisão, a história de Fukuda San, a história de Dogen e, o nosso Roshi seria um Dogen de nossos dias, ele estaria resgatando o Zen? Porque a maneira dele ensinar, é focado na iluminação.

Monge Genshô – Somos muito privilegiados e muitas vezes não percebemos o tamanho do privilégio, da sorte que temos. Nosso sesshin está no final, temos então, um grande desafio, não desperdiçar esse estado mental que com grande sacrifício construímos. Já que construímos algo no sesshin, não deixar de praticar é um grande desafio. Todos podem sentir que tem algo para ser encontrado, criado, dentro de nossas mentes. A vida é difícil, ser disciplinado não é fácil, praticar não é fácil, trabalhar não é fácil, esquecer-se de si mesmo, jogar fora seu orgulho e vaidade, não é fácil, não deixar que pensamentos negativos nos governem, o medo, a raiva, paixões, ambições pequenas, não deixar que isso tudo nos governe. Temos que ser superiores a esses sentimentos se quisermos estar mais perto de Buda. Reverenciamos Buda como um modelo, um grande mestre, ele mostrou que era possível, por isso tantos o seguiram. Somos maus alunos. Frequentemente vejo minhas falhas, mas pelo menos estamos tentando e isso que é ser praticante.



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