Seja aquele que canta lá fora
Budismo

Seja aquele que canta lá fora




As experiências místicas muito provavelmente não acontecem no zazen, as melhores experiências acontecem fora, depois quando estamos caminhando, ou em outra situação e percebemos que nossos sentimentos estão mudando, se fizermos tempo suficiente de prática nossos próprios sonhos mudam, nosso sono muda, mas nossos sonhos melhoram, porque nosso inconsciente muda. Agora temos apenas um dia mais ou menos de sesshin, esses primeiros zazen do primeiro dia é como se fossem uma limpeza, muitos pensamentos já vieram e se foram, muitos pensamentos que surgiram nos primeiros zazen já não tem mais sentido. Talvez agora estejam retornando imagens ou pensamentos que não são dos últimos dias, mas sim coisas mais básicas e também elas se tornarão cinzas, mas não se importem, não mexam com elas, apenas retornem para cá, para essa imensa dificuldade que é viver o momento presente, a verdadeira vida.

É necessário esquecer de si mesmo. Esquecer de mim, este que sempre quer explicar tudo, que sempre quer ter sucesso, que sempre vai procurar culpas, ou para se martirizar ou nos outros, esqueçam este eu, joguem fora, ele também é uma construção, também é imaginário. Por isso fazemos tudo junto, nunca separem-se do grupo para fazer algo sozinhos. Nós fazemos tudo juntos. Porque não somos ”eus” separados, somos participantes de um grande ser. Esse eu separado que nós tanto prezamos e acreditamos, esse é que nasce e morre, se nos livrarmos dele, nos livramos também de nascimento e morte. Isso é iluminação. Por isso a iluminação é um acontecimento de grande alegria, felicidade imensa, porque morte e nascimento desparecem e de repente você ganhou vida eterna.

Não sentimos nossa eternidade porque somos indivíduos, porque acreditamos em nós mesmo como pessoas separadas e até criamos religiões que querem que nós continuemos existindo iguais para sempre. E não existe nada igual para sempre, só existe um imenso universo do qual nós somos ondas participantes. Estamos nesse imenso fluxo. Somos como as pedras ou árvores lá fora, somos fenômenos no universo. Nós temos que nos sentir como o universo e para isso é necessário esquecermos de nós mesmos. E isso é imensamente difícil, a prática começa com “esqueça passado e futuro, sente-se e mergulhe e seja um com todas as coisas em volta”. Se você conseguir ser um, nem que seja por algum lapso de tempo, se por alguns segundos você for aquele que canta lá fora, mesmo que por um pequeno instante você terá enxergado o que é iluminação. Iluminação é sentir-se assim sempre.



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