Budismo
Signos, Símbolos, Sonhos e Arquétipos
 
 

 
Monge Genshô: Signos nós vemos a toda hora. Quando vemos na porta de um toalete uma  figura de um homem ou uma mulher, isso é um signo e representa menos do  que mostra. O que para nós importa são os símbolos. Quando vamos ao  altar e vemos uma estátua de Buda, uma vela, um incenso ou uma flor,  estes são símbolos e representam muito mais do que estão mostrando, ou  seja, têm uma quantidade enorme de significados e muitos deles  incompreensíveis para nossa mente racional. Eles falam ao nosso  inconsciente. Uma antiga praticante me escreveu dizendo o quanto se  sentia desconfortável com as exteriorizações da prática. É comum  escutarmos pessoas dizendo que não gostam de rituais.
 Eu mesmo já tive esse tipo de pensamento por um período bem longo até  aprender que os símbolos não nos falam somente sobre o que eles  representam. Uma estátua de Buda não é tão somente um pedaço de gesso ou  madeira em forma de um homem sentado. Aquela figura ali representada  significa que alguém conseguiu despertar e que você, assim como ele,  pode despertar. Representa mais que um homem, representa todo o Dharma,  todos os Budas, todos que se esforçaram e que através do caminho do meio  também despertaram.
 Uma vela é mais que algo feito de cera ou parafina usado para iluminar,  ela representa luz e sabedoria. Significa ver com nitidez, ter clareza, e  representa os olhos de Buda. Quando você observa sua sombra, pode ter  noção de quão intensa é a luz atrás de você pela nitidez de sua sombra.
 
 As flores não servem apenas para enfeitar o altar, elas estão lá como  símbolo da impermanência e da evanescência, de tudo que hoje é belo e  amanhã evanesce, de que tudo o que é jovem, murcha, cai e finalmente  morre. Os símbolos são muito mais do que aparentam. Nós devemos fazer  reverências mesmo para símbolos de outras escolas ou tradições  religiosas. Eu falei que símbolos falam ao nosso inconsciente, e a  linguagem de nosso inconsciente é simbólica, por isso sonhamos muitas  vezes com símbolos.
 As mesmas pessoas que dizem não gostar de rituais, se sentem ofendidas  quando não lhes damos bom dia ou não apertamos sua mão quando estendida  em cumprimento. Essas pessoas não entendem o significado do gesto. Não  entendem que estender a mão em cumprimento significa não estar armado  sendo, portanto, um gesto de paz, um símbolo que carrega dentro dele uma  carga de comunicação que é arquetípica e não necessita de explicações,  mas mesmo que haja qualquer tipo de explicação, esta também não  corresponderá ao que verdadeiramente o símbolo representa, isso precisa  ser sentido.
 Os homens herdam de seus antepassados, múltiplos órgãos. Nós achamos  perfeitamente natural que nossos corpos ajam de determinada maneira e  nunca questionamos sua herança genética, a herança de milhões de anos  que vem junto com nossos órgãos. Porque pensamos que nossas mentes são  novas e não trazem traços de antepassados? Nossas mentes não são novas e  por isso as pessoas têm sonhos parecidos. Quantos de vocês já sonharam  que estão voando, ou então que estão nus numa reunião social, onde  ninguém além de você parece notar? São sonhos comuns a muitas pessoas,  não importa a cultura que ela viva. Isso significa que carregamos dentro  de nós, em nossas consciências, uma herança do passado, elas também não  são novas, assim como nossos corpos.
 O DNA de nossas células é muito antigo. Há alguns anos eu estava  fazendo um zazen de vinte e quatro horas, que funciona da seguinte  maneira: você fica sentado até não aguentar mais, levanta faz um pouco  de kinhin e volta a sentar. Em poucas horas o cansaço é tanto que quinze  minutos sentado é o suficiente para adormecer e em razão disso, você tem  que levantar. O cansaço é de tal forma grande que num piscar de olhos  você está sonhando. Isso é muito interessante, pois na prática da  meditação descobrimos que é possível acessar o inconsciente. Podemos  acessá-lo de maneira tão significativa que até podemos fazer perguntas.  Nesse zazen de vinte e quatro horas, no exato momento em que adormeci,  perguntei: “Quem sou eu?”, e imediatamente apareceu a imagem de um casaco  que escorregava lentamente pelos galhos de uma árvore. Ele parecia ter  alguém dentro dele, porém nada aparecia nas mangas ou gola. Estava  vazio. Eu abri os olhos e entendi perfeitamente o sonho e, se vocês  pensarem a respeito, poderão entender também, pois a resposta serve para  todos.
 
 
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