Um bom mestre pode ter alunos ruins, um mau não
Budismo

Um bom mestre pode ter alunos ruins, um mau não



Pergunta – Existem coisas que eu fazia, até por conta da minha profissão, mas que já não as faço mais. Em que isso pesa no meu carma?

Monge Genshô – Eu penso às vezes em coisas que fiz no passado e chego à conclusão de que é um carma muito ruim, nem sei quantas vidas vão levar para que esses meus atos e palavras se resolvam. As coisas ficam voltando, às vezes são ruins, outras vezes são boas. A primeira vez que vim à Florianópolis dar uma palestra eu falei que havia sido um jovem ignorante. Nessa palestra havia uma pessoa que levantou o braço e disse que me conheceu quando eu tinha 15 anos, tinha sido meu colega de escola e disse que eu estava sendo duro comigo mesmo, pois tinha muito boa lembrança de mim, e ali estava por causa disso. O carma fica repercutindo e se você fizer coisas boas isso retorna, assim como as más.

Pergunta – O senhor fala em fazer coisas boas, mas algumas pessoas fazem isso esperando algo em troca.

Monge Genshô – Mesmo que você faça algo bom esperando um retorno, isso trará bons resultados. Mas se não for desta forma, é melhor, pois você não terá feito com uma mente aquisitiva, uma mente que procura recompensa. Mas não fique pensando no passado e sentindo-se culpada, o melhor que você faz agora é cultivar bons pensamentos, boas ações e boas palavras. Tudo começa por um bom pensamento.

Um problema que acontece com frequência nas sanghas é a convivência com outras pessoas. Costuma-se falar que a sangha é como um pilão com grãos de arroz e conforme vamos socando o pilão e os grãos vão se esfregando, vão perdendo suas cascas. É através do atrito de um grão com o outro que eles vão perdendo seus defeitos. Todas as pessoas os têm, mas muitas vezes observamos somente o outro e o criticamos. Essa é a ignorância básica, não vemos que o outro somos nós mesmos. Enquanto olhamos para o outro e o vemos como errado, o vemos como separado de nós, não observamos que isso é nosso ego. Meu “eu” é quem observa e critica os atos e palavras do outro. Meu “eu” é quem vê as coisas separadas.

Há uma história de um mestre que tinha um aluno muito ruim e que roubava da sangha. Os outros alunos foram até o mestre e pediram que expulsasse o ladrão. O mestre então mandou que todos fossem embora e disse que ficaria somente com ele como aluno. Os alunos não entenderam a decisão do mestre e, inconformados, perguntaram o porquê de sua decisão. “Ora, vocês são bons e perfeitos, não precisam de mim, ele sim precisa”.

Em outra história semelhante um mestre possui também um aluno problemático e resolve escolher justamente ele para seu sucessor e diante do espanto dos outros alunos ele explica, “Sim, ele é cheio de problemas e defeitos, mas ele eu o conheço bem, vocês disfarçam e escondem os seus, eu não os conheço o suficiente”.

Pergunta – O que podemos fazer para entender um mestre, por exemplo, quem já viveu muitas situações às vezes olha e pensa: “Como esse mestre escolheu essa situação?” Será que realmente nossos olhos que só vêem o errado ou aquela pessoa é mesmo errada e só o mestre que não percebe?

Monge Genshô – Esses mestres que eu citei, foram grandes mestres, não é o meu caso, por isso eu perco facilmente a paciência. Um grande mestre pode ter alunos ruins, como eu não pertenço a esse grupo, preciso de alunos bons.



loading...

- A Rara Transmissão
Pergunta: O senhor falou do filme Zen. Nele, Dogen sai procurando um mestre. A pergunta é,  eu que não sou discípulo do senhor, estou aqui aprendendo, a gente precisa de alguma maneira sentir isso aqui dentro, sentir uma conexão? Monge Genshô:...

- Os Piolhos De Ryokan
Aluno: É correto também pensar que com essa prática,  conseguirei não ser influenciado pela dualidade? Monge Genshô: Isso é muito bom. Porque as coisas são como são. O mundo é como é. Há uma história  Zen de uma mulher que estava...

- Os Frutos Do Carma
Aluno: Precisamos praticar até o carma perder força? Monge Genshô: Até o carma se extinguir. Mas como você continua agindo, você cria carma novo. Como você tem um padrão de hábito de manifestar, de fazer coisas, você sempre renova seu carma....

- Uma Transmissão Além Das Escrituras
Pergunta – O Zen é meditação, certo? Ele é um corte, axiológico do próprio budismo. Então porque o Zen ainda é indexado ao budismo, se ele manteve a linha própria dele?  Porque ele tem fundamentações para andar sozinho. O senhor mesmo...

- Para Quem Quer Respostas
Aluno – Me vem uns pensamentos, por exemplo, antes de vir já começo a separá-los, o que seria bom, o que seria ruim e por que sentiria aversão ao teu inimigo, antes mesmo de ser inundado por essa maré incessante de pensamentos conseguir distinguir...



Budismo








.