Budismo
A loucura do mundo I
Nós praticantes, temos que enfrentar uma coisa chamada A loucura do Mundo. Nesse sesshin tivemos a oportunidade de sentir esse contraste, durante toda a noite e pedaço da manhã, ouvimos o som de uma festa rave, uma festa que ocorre a quilômetros de onde estamos. Podemos imaginar o espírito que anima essa festa, todos nós já estivemos em alguma festa com som alto.
Quais são as características das festas? Nos embriagamos, tentamos não pensar, tudo é feito para que as pessoas escapem da clareza e percepção da vida como ela é, de como sentimos e percebemos a vida na sua natureza intrínseca, sua finitude, a questão dos desejos e prazeres, daquilo que nós procuramos e que normalmente embrutece os homens. Em geral os prazeres exigem certa cegueira, exigem que você ignore o sofrimento alheio, quando comemos algo prazeroso, esquecemos que mesmo quando comemos arroz grande sofrimento aconteceu para que ele chegasse até nós, foi necessário que muitos seres, pequenos seres na terra fossem sacrificados. Foi necessário, inundar campos, usar herbicidas, ou seja, mesmo quando comemos algo que nos parece inocente, não é assim.
Então, quando fazemos a pratica do Oryoki, (refeição ritual zen) a fazemos com grande respeito e não desperdiçamos nem um grão, pois temos que pensar no sofrimento que acontece por existirmos. Nas festas as pessoas bebem, ou mesmo usam drogas. Ao fazerem isso elas embrutecem suas mentes e tentam não enxergar nada, perdendo desta forma, algo muito difícil de conseguir, a clareza. Esquecemos também, o resto do mundo, o sofrimento que irá causar a alguma pessoa o fato de estarmos ali.
Nas festas há também grande procura pelo prazer sensual, uma das grandes motivações das festas é o desejo de encontrar parceiros para a sensualidade. Nessa mera procura, há sofrimento. Pois há escolha, há a recusa, há traição, uma série de coisas. E também porque essa procura pode ser de um prazer momentâneo, que começa agora e logo que se realiza as pessoas querem se afastar, porque o impulso que levou àquele prazer era momentâneo, não era profundo. Milan Kundera, no seu livro “A insustentável leveza do ser”, diz “amar não é fazer sexo, amar é querer dormir abraçado depois”. Esse é o significado de não estar a procura do mero prazer sensual, mas sim de estar junto, de compartilhar. Então esse é um significado totalmente diferente da fugacidade que normalmente se procura nas festas.
Outra coisa que acontece numa festa como a que ouvimos, são os sons muito altos, eles significam, “Não estamos aqui para conversar, para entender o outro, não estamos aqui para ouvir alguém, queremos abafar todo pensamento racional e mergulhar na pura sensualidade”, e o ritmo também é muito forte, por quê? Porque é para apressar o batimento cardíaco, para pular e ficar como um louco, então, essas são as loucuras do mundo, o embrutecimento pelas drogas, o som alto, a procura do prazer sensual, sacudir-se, suar e o esquecimento do que aconteceu. Ou seja, o que acontece aqui e agora não tem importância pois vou esquecer amanhã. As pessoas até dizem as vezes, “Eu estava muito louco” como se isso fosse glorioso.
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