Vestem mortalhas e vivem como se fossem morrer
Budismo

Vestem mortalhas e vivem como se fossem morrer




O que é sesshin? O ideograma SE tem o sentido de consertar ou reunir e SHIN significa mente. Nossa mente no mundo, com todos os acontecimentos que sucedem, acaba ficando espalhada, então tem que ser reunida, juntada. Também nossa mente está perturbada, somos arrastados como folhas levadas pelo vento, os ventos das paixões e dos acontecimentos nos jogam de um lado para o outro, não temos domínio sobre o que está acontecendo e somos jogados pelos sentimentos, sentimentos mais variados, amores, culpas, remorsos, desejos, aversões, raivas, que nos empurram de um lado para o outro como se fossemos folhas.

Uma outra boa imagem é como se fossemos cavalos sem rédeas correndo pelo campo desembestadamente. Outra bem característica do que vocês sentem no zazen, é de nossa mente como um macaco bêbado pulando de galho em galho, ele agarra um galho, um sentimento, um pensamento e logo vê outro, pula e se agarra, quando você percebe passou o zazen inteiro viajando, perdido, não conseguiu ficar aqui nesse lugar, que é nosso objetivo.

Para que sentamos em zazen? Para consertarmos nossa mente e verdadeiramente viver uma realidade. Essa realidade é aqui. Temos um imenso privilégio, pois esse local é um paraíso distante de todo o mundo. Lá fora hoje o mundo é carnaval. As pessoas se vestem de fantasias. Na Bahia as pessoas tem uma fantasia que chama-se mortalha. Uma fantasia com a qual pode acontecer de tudo, sujar, rasgar, não tem importância, é uma mortalha, e as pessoas vivem como se fossem morrer, como se nada importasse, não tivesse mais sentido qualquer a vida, essa frase é bem interessante, “vestem mortalhas e vivem como se fossem morrer”. Logo os sons são muito altos, a musica é inebriante e todos os desejos vem a tona e podem ser vividos livremente, por que os outros também não estão se importando pois também irão morrer.

Originalmente no carnaval se usavam fantasias que cobriam também os rostos das pessoas e você não sabia com quem se relacionava. Carnaval tem esse nome de origem, carne, pois era a festa que antecedia a quaresma. Durante os quarenta dias antes da Páscoa, os cristãos antigamente não comiam carne, então o carnaval eram os últimos dias em que era permitido comer livremente a carne dos animais, depois disso, pela noção de que Cristo era o cordeiro de Deus, não se podia fazer isso. Ao mesmo tempo, essa festa tem origem nas antigas festas romanas como as saturnais e as bacanais, festas estas, que lembravam deuses como Baco, o Deus do vinho e portanto do inebriar-se, portanto você bebia o vinho e esquecia suas reponsabilidades e as consequências dos seus atos podendo agir livremente. A palavra em português bacanal tem origem nessas festas ao deus Baco.

Nós escolhemos ficar distantes deste tipo de viver. Ele tem a característica do esquecimento da realidade e o mergulho no mundo da ilusão. Usa-se fantasia, a música é para inebriar, a bebida é para entontecer e as consequências não existem. Aqui estamos no mundo do Dharma, nós escolhemos. Temos o céu, as árvores, o som do riacho, mas nossa escolha é nos tornarmos profundamente conscientes desse momento, completamente presentes e trazermos sempre nossa mente de volta para o aqui e o agora, inteiramente.



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