Budismo
Asuras, trindade, deuses e mentes
Pergunta – Como o senhor poderia expressar esta condição de grande mérito humano?
Monge Genshô – Acho melhor usar o termo Asura. Em um contexto humano seria um executivo poderoso, no sentido do Asura estar sempre batalhando, sendo muito competitivo e poderoso, mas não poderoso como os deuses que são seres que não precisam se esforçar. Neste contexto poderíamos considerar aquele que nasce em uma condição de riqueza, sem nenhuma perspectiva de sofrimento material. Mas este estará sujeito ao karma e irá morrer. Os semi deuses invejam os deuses, mas estes invejam os homens, pois eles gostariam de ter uma vida simples, livre, sem tantas obrigações, etc…Esta forma de entender esta cosmogonia é muito útil didaticamente.
Pergunta – Com relação ao conceito da Trindade, qual seria sua origem e significado?
Monge Genshô – Os números parecem possuir determinadas características, porém esta idéia não é bem absoluta. O número três, sete e outros sempre foram considerados mágicos e esotéricos: o número três ligado ao triângulo, por exemplo. Veja, contudo, que no judaísmo, por exemplo, o Deus judaico (Jeová), como o Deus islâmico (Alá), é único, sem Trindade. A idéia da Trindade surge mais tarde no cristianismo, quando o Cristo Jesus é elevado à condição de Deus e cria-se sua representação com o Espírito Santo. Isto não existia no Judaísmo, mas trata-se de uma criação posterior do Cristianismo, possivelmente influenciada pelos mistérios de Mitra (Mitraísmo3) e pela cultura grega e esta por sua vez por trindades mais antigas.
Também vale observar a influência do budismo no pensamento grego e judaico. O imperador indiano Ashoka, que morreu em 232 a.C., enviou missionários budistas ao ocidente, que chegaram à Grécia, Oriente Médio e Egito. Então o pensamento budista espalhou-se com essa iniciativa de missionários do imperador. Logo, vamos ver traços do pensamento budista em alguns filósofos gregos, como Plotino; Epicuro; Diógenes, Laércio. O estoicismo foi influenciado pelo pensamento budista também, no sentido da postura de ataraxia do sábio4. Estas são coisas que o ensino eurocêntrico das nossas Universidades geralmente não contemplava, o que está começando a mudar.
Pergunta – Qual a raiz da questão das divindades?
Monge Genshô – Os homens sempre tenderam a atribuir aos Deuses aquilo que não conseguiam entender. Quando tínhamos um vulcão, colocava-se um Deus dentro do vulcão, como uma chaminé do Inferno ou porta para o reino de Hades. Nossos índios aqui tinham um Deus do Trovão, etc… O que acontece é que, a medida que o conhecimento humano aumenta, os deuses recuam. Quando você não entendia como funcionava o trovão, então tinha o deus do trovão. Agora quando compreende-se o que é o fenômeno do raio, então o deus desapareceu.
Pergunta – Esta personificação dos fenômenos desconhecidos não seria uma característica da natureza humana?
Monge Genshô – Os homens geralmente buscam soluções mágicas, pois são mais fáceis. Se você realmente quiser entender como funciona sua mente é algo difícil, comparado à ideia de um pensamento maligno colocada por um demônio dentro da sua cabeça. Quando então vem algo bom você atribui a um anjo ou a uma presença divina. Isto é tornar mágica a realidade, mas o budismo diz, não, é você que alimenta sua mente. Como fazemos? Nós treinamos a mente, sem nenhuma influência externa. A influência real é você. Claro que é influenciado pelas coisas que ouve, pelas pessoas que procura, pelos programas de TV que assiste, por aquilo que lê, etc… Vemos que o praticante budista, a medida que toma consciência de como as coisas funcionam, ele tende a ficar seletivo. “Ver isso não é bom para mim…” Na minha prática pessoal este tipo de coisa tornou-se cada vez mais flagrante. Estudar a história humana nós faz perceber como nossa mente funciona, e facilita o trabalho do professor. Quando alguém declara “o mundo está terrível” ou “hoje estamos vivendo uma época cada vez pior”, na realidade possui pouco conhecimento da história. No passado o comportamento da humanidade foi muito cruel. O mundo de hoje, que nos parece terrível, na realidade nunca foi tão bom, por incrível que pareça.
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