Budismo
Criado de dentro para fora
Aluno - E quem controla essa manifestação? Se não sou eu quem controla, de onde vem esse controle?
Monge Genshô – Quem controla a gravidade, a chuva e os ventos? Nós sempre desejamos um “quem” por trás de todas as coisas, mas nem em você existe um “quem”. Quem dentro de você pensa? Você saberia me dizer? Quem é essa dentro de você que pensa?
Aluno – A mente.
Monge Genshô – E quem é essa mente? Quem controla essa mente?
Aluno – Eu ou aquilo que a gente pensa que é.
Monge Genshô – Você pensa que controla sua mente. Mas se é sua mente que pensa, que mente que pensa e que mente que controla o pensamento? Você tem duas mentes? Uma controladora e outra pensadora?
Aluno – Não. Penso que seja uma manifestação maior que eu, que está por trás e que criou...
Monge Genshô – E quem controla essa manifestação?
Aluno – Deus?
Monge Genshô – E quem controla esse Deus? Se ele parar e pensar, “Eu penso, mas quem me controla”? Qual seria a resposta que ele encontraria?
Aluno – Não, ele é a expressão de tudo.
Monge Genshô – E por que você não é a expressão de tudo?
Aluno – Eu quero ser a expressão de tudo, mas tenho que me livrar desse “eu”.
Monge Genshô – Mas então por que você atribuiu esse “eu” a alguém fora de você e por que esse “eu” fora de você não tem o mesmo problema que você? Ele teria, não é mesmo?
Aluno – Não.
Monge Genshô – Por que não? Se ele tem uma mente e pensa, perguntaria: “quem me criou”?
Aluno – Não vejo dessa forma. Ele é, logo já sabe tudo...
Monge Genshô – Mas então por que você não é?
Aluno – Alguma coisa aconteceu que mudou tudo isso...
Monge Genshô – Não poderia ter acontecido a mesma coisa com ele?
Aluno – Não.
Monge Genshô – Por que não?
Aluno – Porque ele já é tudo, ele cria...
Monge Genshô – Você está querendo atribuir isso a uma definição. Existe alguém atrás de mim que sabe tudo, pensa tudo e que sabe o motivo de tudo.
Aluno – Não acredito que ele, por exemplo, fosse criar o sofrimento. Se eu soubesse que sou parte dessa célula, não iria criar sofrimento para eu própria sofrer...
Monge Genshô – Mas então por que esse ser atrás de você criou o sofrimento?
Aluno – Não sei se foi ele quem criou. Pode ter sido algo...
Monge Genshô – Ah, então existe outro além dele capaz de criar e que criou o sofrimento?
Aluno – Não sei, é o que eu gostaria de saber.
Monge Genshô – A resposta é não. Isso é uma regressão sem fim. Se eu criar alguém extremamente bom atrás de nós, precisarei criar alguém extremamente mau para poder explicar a existência do mal.
Aluno – E sobre o véu de Maya, o véu da ilusão?
Monge Genshô – O véu da ilusão é que cria todas essas armadilhas. Nós criamos soluções através de regressões, por exemplo, como não sei como isso surgiu, eu crio algo atrás de mim para explicar o surgimento disso. Veja bem, os gregos não sabiam o que era o sol, então criaram o Deus do Sol que era Apolo e guiava o carro do sol todos os dias. Dessa forma, eles atribuíram à Apolo a solução do sol. Mas alguém poderia perguntar: “Mas e Apolo, de onde surgiu”? Para resolver esse problema, Apolo é filho de Zeus. Mas Zeus é filho de quem? Então criaram um Deus que era pai de Zeus a quem Zeus matou. E assim por diante.
Quando você cria uma explicação, tem que criar uma regressão para explicar o surgimento da explicação. Para resolver esse problema o Budismo nunca fala sobre essas coisas. Nós estamos raciocinando para ver como é a historia do pensamento, mas o Budismo não tem esse tipo de respostas ou perguntas, “quem foi que fez isso”? Ninguém controla sua mente, ela é sua. Você tem o poder de ser senhor de sua mente, completamente, não existe ninguém comandando sua mente do lado de fora. Você pode induzir sua mente a se sintonizar e trabalhar com outras coisas, por exemplo, você falar palavras boas e criar um mundo bom ou pode viver a reclamar e insultar e criar um mundo semelhante a isso, atraindo pessoas com energia semelhante. Você cria seu mundo. No Budismo o mundo não é criado de fora para dentro, mas sim de dentro para fora. Não atribuímos nada a uma força externa.
loading...
-
Identidades
Pergunta – Me remetendo à uma pergunta anterior, de que quanto menos identidades tivermos menos sofrimento teremos e, com essa nossa busca por essas identidades e crescimento, como alcançar essas identidades não em um sentido literal, mas...
-
Não Acredite, Experimente
2) Seria correto fazer uma analogia com uma peça de teatro? Sabemos que não é real, mesmo assim nos emocionamos. Monge Genshô – Você pode se permitir, sabe que é fantasia, mas pode se permitir. Você pode cortar a emoção partindo para um lado...
-
Para Escapar Só Com Outra Mente
P: O que permanece então do ser humano? A onda volta para o oceano, e o ser humano volta para onde? Monge Genshô – O que você deseja que permaneça? Olhe sua mão. Você acredita que alguma coisa dela permanecerá? Aluno - Não. Monge Genshô –...
-
O Construtor Da Jaula
Pergunta - Estou vivendo um certo conflito. Normalmente eu consigo meditar. E através de minha técnica consigo alcançar um estado que me traz serenidade, que me coloca num estado de melhor consciência do que se passa comigo ou ao meu redor, os fenômenos...
-
Orgulho Na Prática
Antigamente, no modelo oriental, esperava-se que o aluno estivesse mergulhado na cultura. Quando você tem um aluno que pratica artes marciais, por exemplo, o treinamento é mais fácil, porque o aluno já se habituou com a disciplina, para quem não...
Budismo