BUDISMO SEM SEGREDOS
Budismo

BUDISMO SEM SEGREDOS






Para os budistas não há nenhuma salvação vinda de um deus ou de deuses. Não há nada de eterno no universo e não há uma alma que necessite ser salva. O Caminho Espiritual é uma via heroica, sem nenhum "elemento externo" que determine seu êxito. Por isso, no Budismo, se fala em Libertação das cadeias da Ilusão, Libertação da ideia de um 'eu-permanente', isso tudo, porém, sem perder o otimismo em relação ao sentido da  vida. 

Buda, quando disse ser possível vencer os sofrimentos, não se referia a fazer com que magicamente a realidade deixasse de ser impermanente. Seus ensinamentos procuram mostrar que, enquanto estivermos iludidos com ideias de eternidade, só agregamos sofrimento a nossas vidas. Ilusão gera expectativa e expectativa sempre gera sofrimento. Assim, é preciso entender e se conformar com as regras da vida, deixando as ilusões da felicidade egoísta para trás.

Do Blog Roda da Lei 


Nesta matéria gostaria de apresentar aspectos e orientações sobre o budismo de uma forma bastante sintética, para que os leitores que pretendam iniciar-se ou compreenderem algo sobre essa filosofia milenar o façam de forma rápida e com as informações principais em um só texto.

Primeiramente o Budismo, primordialmente não “nasceu” com um contexto religioso, como um neo-hinduísmo, ou uma religião neo-bhramanica, a sua “perfusão” inicial era caracterizada pela disseminação do Buddha Dharma como uma técnica direta, simples e objetiva, que tinha por finalidade última a obtenção da permanência de nossa mente no estado de Buddha, conhecida como despertar, iluminação, budeidade etc. Que nada mais é do que um estado mental de total e amplo conhecimento da verdadeira natureza dos fenômenos, estado esse obtido através da prática de vários preceitos, entendimento de certos conceitos e aplicação de métodos práticos, que irei listar a seguir, mas nenhum deles tem qualquer conotação religiosa-ritualística.

Essa transformação, de prática simples e pura, direcionada a um determinado fim, para as várias vertentes (escolas, seitas etc.) religiosas, hoje existentes no budismo, deveu-se justamente ao fato do budismo em si, não ser um prática teísta, que não afirma nem nega a existência de um ou mais deus ou deuses e deusas, mas que simplesmente nos ensina que tal não influi em nada na capacidade de cada ser em atingir Anuttara-Samyak-Sambodhi, a Iluminação Sem Superior, o estado mental de não regressão, ou seja não renascimento em estados mentais inferiores, durante a nossa existência no mundo fenomênico. Por isso quando da disseminação do budismo a partir do que hoje é o Nepal, para as demais regiões do oriente e ocidente, ele (o budismo) foi sendo incorporado dos sincretismos religiosos de cada país ou região do globo por onde passou. Na china acolheu vários aspectos do Taoísmo, no Japão do Shintoísmo, na Coréia foi introduzido com forte influência do Zen Budismo japonês, e acabou agregando aspectos do Shamanismo local, na Thailândia conserva até hoje o sincretismo com o Bhramanismo, foi disseminado no mundo helenístico, como um Greco-budismo, por Alexandre Magno, no Tibet sofreu grande influência do Bön-Po (bonismo) o que resultou no Budismo Mantrayana ou Vajraiana, com a adoção e sincretismos de várias crenças dessa primitiva religião, inclusive do tulku (reencarnação consciente), e assim por diante até os dias de hoje, ainda nos países aonde ele finca raízes, acaba por aceitar algum sincretismo da religião predominante no local.

Por isso torno a afirmar o budismo em si não é uma prática religiosa, mas sim um conjunto de regras, preceitos e práticas, que seguidas no seu total conjunto nos auxiliam na obtenção do maior objetivo de todo  budista, “a Iluminação”.

Um equívoco que devemos esclarecer logo de início, é que: o budismo mahayana, principalmente, não crê e não prega, o renascimento continuo após a extinção do corpo-físico, e nem tampouco a reencarnação, pois simplesmente após a dissolução dos cinco agregados, Forma material (rupa); Sentimento (vedana); Vontade (samskara); Percepção (samjna); Consciência (vijnana), não há o que renascer nem no que renascer; essa “figura de retórica” utilizada nos sutras, narrando renascimentos anteriores em diversas formas, como seres humanos, animais, ou até mesmo como “antigas árvores”, é somente como diz a própria definição da mesma: “Um artificio de linguagem que modifica a expressão do pensamento, para torná-la mais viva, mais energética ou mais compreensível”, e o pensamento no caso é de que renascemos instante após instante nos dez mundos-estados, durante nossa existência no samsara e não de que morremos e renascemos a cada ciclo de vida em outro corpo físico.

Outro ponto primordial sobre o budismo é que ele adota um sistema de investigação (skepsis), não especulativo, e totalmente baseado na práxis.




E por último desmistificando algumas ideias lançadas como palavras ao vento, vou explanar a respeito de alguns conceitos sobre o budismo, como: O que significa essa palavra? Quantos "budismos" existem? E principalmente quais as "condições" primordiais (no caso do budismo: preceitos) para que uma pessoa se declare budista?


O que significa a palavra budismo?

Bem, conforme a definição encontrada na obra "Língua Portuguesa de Antônio Houaiss":

"Apenas em doutrina religiosa, optou-se para uma análise da amplitude que o sufixo  –ismo pode produzir com nomes. Na classe religião, encontrou-se a categoria doutrina com antropônimos formados a partir de nome do líder religioso com o acréscimo do sufixo –ismo, para formar doutrina religiosa. Entende-se como doutrina o “princípio, crença, ou conjunto de princípios ou crenças que tem um valor de verdade absoluta para os que o(a) sustentam e seguem, e que é, no entender destes, o(a) único(a) aceitável” (2001). Sendo X antropônimo que expressa o nome do líder religioso, encontrou-se “doutrina de X”, por exemplo “wiclefismo, grafada também como wycliffismo, doutrina religiosa do teólogo inglês John Wycliff ”; “hildebrandismo,doutrina religiosa que segue os ensinamentos de Hildebrando”; “galismo, doutrina religiosa de Franz Joseph Gall”. 

O SUFIXO "ISMO" NA HISTÓRIA DAS GRAMÁTICAS...


Portanto analogamente, entendemos que "budismo" encaixa-se na definição acima como:

O conjunto de princípios dos seguidores do "Buda", (a figura histórica de Sidharta Gautama "O Buddha").

Sendo assim, automaticamente respondo a segunda questão

Quantos "budismos" existem"?  afirmando:

Não existe o budismo de TienTai, o budismo de Nichiren, o budismo de Thich Nhat Hanh, o budismo do Dalai Lama, o budismo de Daisaku Ikeda, ou o budismo de seja lá quem for. Só existe um verdadeiro e único budismo, que é o Budismo de Sidharta Gautama "O Buddha". As pessoas aqui citadas, como qualquer uma outra não citada, encaixam-se simplesmente na categoria de "estudiosos-divulgadores" do budismo.

A terceira questão, Quais as "condições" primordiais (no caso do budismo preceitos) para que uma pessoa se declare budista?, é também respondida com auxílio da própria definição do uso do sufixo "ismo" no campo da religião; "Entende-se como doutrina o ''princípio, crença, ou conjunto de princípios ou crenças que tem um valor de verdade absoluta para os que o(a) sustentam e seguem, e que é, no entender destes, o(a) único(a) aceitável''..."

Portanto para declarar-mo-nos budistas, é necessário que sigamos o conjunto de princípios e crenças estabelecido pelo Buddha Shakyamuni, e o princípio básico (para os leigos), Ele nos deixou expresso no Pañca-sila, os cinco preceitos, que são:

Panatipata veramani sikkhapadam samadiyami
Eu tomo o preceito de abster-me de matar seres vivos.

Adinnadana veramani sikkhapadam samadiyami
Eu tomo o preceito de abster-me de tomar o que não for dado.

Kamesu micchacara veramani sikkhapadam samadiyami
Eu tomo o preceito de abster-me de comportamento sexual impróprio.

Musavada veramani sikkhapadam samadiyami
Eu tomo o preceito de abster-me da linguagem incorreta.

Suramerayamajja pamadatthana veramani sikkhapadam samadiyami
Eu tomo o preceito de abster-me do entorpecimento e da imprudência, resultantes da utilização de drogas ou da ingestão de bebidas alcoólicas.

O Texto abaixo extraído do capítulo 4 do livro Budismo Significados Profundos do Venerável Mestre Hsing Yün, nos ajuda a compreender melhor a aplicação quotidiana dos cinco preceitos:

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Para Compreender os Cinco Preceitos
Os pre­cei­tos são enun­cia­dos na forma nega­ti­va, por­que o pri­mei­ro passo para o crescimen­to moral é sem­pre dei­xar de fazer as coi­sas que prejudi­quem outros seres sencien­tes. Antes de sequer come­çar a pen­sar em como aju­dar o pró­xi­mo, é neces­sá­rio, antes, parar de pre­ju­di­cá-lo. Vamos detalhar, a ­seguir, cada um des­ses pre­cei­tos fun­da­men­tais.

Não matar 
Matar inten­cio­nal­men­te um ser sen­cien­te é um modo muito grave de pre­ju­di­car alguém. Se pos­sí­vel, deve­mos evi­tar matar até mesmo camundongos, per­ni­lon­gos, formigas e outros ani­mais peque­nos. Ao res­pei­tar a menor e mais inde­fe­sa cria­tu­ra, adotamos uma ati­tu­de de res­pei­to por todos os seres. Esse tipo de res­pei­to é a base de todos os méri­tos.
Como o budis­mo é uma religião cen­traliza­da na vida huma­na e, uma vez que o Buda disse ser a vida huma­na par­ti­cu­lar­men­te pre­cio­sa, matar outro ser huma­no é a mais grave forma de matar. Matar um ser huma­no de pro­pó­si­to é ato gra­vís­si­mo, que resul­ta sem­pre em carma nega­ti­vo tam­bém muito grave.
O mau carma gera­do pelo assas­si­na­to varia de pes­soa para pes­soa, pois as circunstân­cias que levam à trans­gres­são são sem­pre dife­ren­tes. Um indí­cio da gra­vi­da­de do homi­cí­dio pode ser per­ce­bi­do quan­do se ana­li­sa o que acon­te­cecom um mongeou monja budis­ta que venha a matar um ser huma­no: essa pes­soa será expul­sa do monastério, não terá per­mis­são para con­vi­ver com outros mon­ges e mon­jas e, com toda a cer­te­za, renas­ce­rá no infer­no. Essa retri­bui­ção não pode ser abrandada, nem mesmo pelo mais sincero ato de arre­pen­di­men­to.
Matar um ani­mal ou um inse­to tam­bém con­fi­gu­ra uma vio­la­ção do primei­ro preceito, ape­sar de não ser con­si­de­ra­da uma ofensa tão grave quan­to matar um ser huma­no. As semen­tes noci­vas plan­ta­das na cons­ciên­cia quan­do a pes­soa mata ani­mais podem ser erradi­ca­das por meio de atos de sincero arre­pen­di­men­to.
A proi­bi­ção de matar figu­ra em pri­mei­ro lugar entre os Cinco Preceitos por­que é a menos sutil de todas e, por­tan­to, con­sis­te no ali­cer­ce das ­outras. Quem con­se­gue per­ce­ber que matar é erra­do pode come­çar a ver que as outras for­mas de causar dano tam­bém são erra­das.
Observar o pre­cei­to que proí­be matar é algo que traz gran­des bene­fí­cios espirituais, ensi­nan­do-nos a pra­ti­car a com­pai­xão e a pen­sar com pro­fun­di­da­de nas necessi­da­des e nos direi­tos dos ­outros seres. Na ver­da­de, todos os seres são ape­nas um. Se não con­se­guir­mos res­pei­tar os ­outros, como pode­re­mos res­pei­tar a nós mes­mos? E, sem res­pei­to pró­prio, como ser dig­nos de conhecer a nossa natu­re­za búdi­ca?
Muita gente per­gun­ta como as plan­tas devem ser con­si­de­ra­das à luz desse primeiro pre­cei­to. Sendo elas seres vivos, não seria erra­do matá-las? O Buda disse que os ani­mais e os inse­tos, por terem cons­ciên­cia ou per­cep­ção, são muito dife­ren­tes das plantas. Em última aná­li­se, todas as coi­sas deste mundo são dota­das de natu­re­za búdi­ca e devem ser res­pei­ta­das. Contudo, uma vez que os ani­mais têm cons­ciên­cia, devem ser trata­dos com espe­cial res­pei­to, pois, como nós, eles tam­bém estão em meio à jor­na­da que só se conclui com o des­per­tar com­ple­to.
Os budis­tas chi­ne­ses geral­men­te dão maior ênfa­se ao vege­ta­ria­nis­mo do que os de outras tra­di­ções. O pra­ti­can­te que adota a dieta vege­ta­ria­na se desas­so­cia total­men­te do ciclo de criar e matar ani­mais. O Sutra do Grande Nirvana diz: “Aqueles que comem carne per­tur­bam o desen­vol­vi­men­to da grande com­pai­xão. Onde quer que andem, parem, se sen­tem ou se dei­tem, o chei­ro da carne que come­ram pode ser sen­ti­do por ­outros seres sen­cien­tes, os quais, con­se­quen­te­men­te, se ame­dron­tam”.

Pessoas que gos­tam de matar cau­sam repul­sa em ­outros seres vivos, ao passo que aque­las que não gos­tam de matar ­atraem para si os ­outros seres vivos.
Tratado sobre a Perfeição da Grande Sabedoria

Não rou­bar
Não pre­ju­di­car os ­outros de nenhu­ma forma é o fun­da­men­to de todos os Cinco Preceitos. Quem rouba lesa, por­que viola o direi­to de pro­prie­da­de e a con­fian­ça na integrida­de do mundo ao redor. Define-se “rou­bar” como o ato de se apro­priar de qualquer coisa que não seja sua. O dano pode ser gera­do por meio de frau­de ou enga­no, pela remo­ção físi­ca de um obje­to per­ten­cen­te a outra pes­soa, pela esca­mo­tea­ção das leis – seja como for, toda forma de apropria­ção con­fi­gu­ra roubo.
Também é roubo tomar empres­ta­do e não devol­ver, ou devol­ver o obje­to avaria­do. Não entre­gar algo que foi con­fia­do aos seus cui­da­dos como por­ta­dor, também é um tipo de roubo. Exemplos disso ­variam do ato mes­qui­nho de não entre­gar um obje­to de pouco valor até o ato grave de apro­pria­ção da heran­ça que ­alguém lhe con­fiou para que pas­sas­se aos herdeiros de direi­to.
O códi­go budis­ta de con­du­ta moral con­si­de­ra o roubo uma trans­gres­são tão mais séria quan­to maior o valor do obje­to toma­do. Caso o obje­to seja de valor irri­só­rio, seu roubo é con­si­de­ra­do ape­nas um com­por­ta­men­to “impu­ro”. Sementes cár­mi­cas são plantadas mesmo pelos meno­res rou­bos, mas o compor­ta­men­to impu­ro não é tão sério como o roubo propriamente dito. Roubos meno­res, cate­go­ri­za­dos como ações impu­ras, seriam, por exem­plo, não devol­ver uma cane­ta esfe­ro­grá­fi­ca, pegar um enve­lo­pe sem pedir ou utilizar algu­ma coisa sem per­mis­são do dono.
O pre­cei­to de não rou­bar é um dos mais difí­ceis de serem segui­dos, porque todos são ten­ta­dos a pegar ou man­ter coi­sas que não lhes per­ten­cem. Ficar com o livro de um amigo, levar a toa­lha do hotel, car­re­gar para casa mate­rial do escri­tó­rio, uti­li­zar o tele­fo­ne comer­cial ina­de­qua­da­men­te e assim por dian­te, quei­ra­mos ou não admi­ti-lo, são, também, roubo.
O sábio nunca se afer­ra a nada; por­tan­to, nada se afer­ra a ele. As pessoas ­comuns afer­ram-se a tudo; logo, ficam apri­sio­na­das às suas ilu­sões pelo carma e pela cobi­ça.
De acor­do com o Sutra Avatamsaka (Sutra da Guirlanda de Flores), roubos graves levam ao renas­ci­men­to em um dos três pla­nos infe­rio­res da exis­tên­cia. Além disso, assim que o renascimento for como ser huma­no, este se dará em con­di­ções de pobre­za e atormentado pelas necessida­des materiais.

O Buda disse: “Ananda, como igno­ram a ver­da­de, os seres sen­cien­tes aferram-se aos seus dese­jos e ocul­tam sua sabe­do­ria sob o véu de suas ­ideias pre­con­ce­bi­das”.
Sutra do Grande Nirvana

Não men­tir
A defi­ni­ção mais sim­ples de men­tir é não dizer a ver­da­de. A men­ti­ra pode ser também qual­quer tipo de enga­na­ção, dupli­ci­da­de, fal­si­da­de, dis­tor­ção ou infor­ma­ção errônea. Trata-se de ofen­sa muito grave, por­que viola a confiança das pes­soas e as leva a duvi­dar de suas próprias intui­ções. Os princi­pais tipos de men­ti­ra são dois:

  • men­ti­ra por omis­são;
  • men­ti­ra intencional.

A men­ti­ra intencional é aque­la ine­quí­vo­ca, pra­ti­ca­da com o propósi­to de enga­nar alguém. A mentira por omissão é a sone­ga­ção de informações com o intuito de enganar alguém. Os dois tipos são muito gra­ves e ambos geram sério carma nega­ti­vo.
As men­ti­ras podem ser clas­si­fi­ca­das em três cate­go­rias:

  • gran­des men­ti­ras;
  • men­ti­ras menos gra­ves;
  • men­ti­ras de con­ve­niên­cia.

Considera-se que a pior men­ti­ra é ­alguém se dizer ilu­mi­na­do quan­do não o é, ou ale­gar ter pode­res para­nor­mais que não tem. Se esse tipo de menti­ra for con­ta­do por um monge ou uma monja, a ofen­sa é ainda mais grave.
Mentiras menos graves são todas as ­outras. Por exem­plo, ­alguém dizer ter visto algo que não viu, ou que não viu algo que viu, ou dizer ser falso o que é ver­da­dei­ro ou ser ver­da­dei­ro o que é falso.
Um exem­plo de men­ti­ra de con­ve­niên­cia seria não reve­lar a um doen­te ter­mi­nal a gra­vi­da­de de seu esta­do. Ou ame­ni­zar uma ver­da­de para evi­tar que uma crian­ça sofra um trau­ma psi­co­ló­gi­co. Na men­ti­ra de con­ve­niên­cia, impor­ta levar em conta a inten­ção que nos ins­pi­ra e a ava­lia­ção que faze­mos dessa inten­ção. Se tiver­mos cer­te­za de que causaremos mais bem do que mal com a men­ti­ra, não esta­re­mos vio­lan­do o pre­cei­to.

Aquele que mente ilude – pri­mei­ra­men­te a si pró­prio e ­depois aos ­outros. Trata a ver­da­de como se fosse falsa e o falso como ver­da­dei­ro. Confundindo total­men­te o ver­da­dei­ro e o falso, não con­se­gue aprender o que é bené­fi­co. Ele é como um reci­pien­te tam­pa­do no qual água limpa não pode ser des­pe­ja­da.
Tratado sobre a Perfeição da Grande Sabedoria

Não ter má con­du­ta ­sexual
Entende-se por não ter má con­du­ta ­sexual a prá­ti­ca ­sexual que viole as leis e costu­mes da socie­da­de. Paralelamente, o inces­to e qual­quer outra condu­ta ­sexual que lese ou viole os direi­tos de outra pes­soa são tam­bém consi­de­ra­dos má con­du­ta sexual.
Alguns exem­plos de con­du­ta abu­si­va, mesmo para pes­soas legal­men­te casa­das: ter rela­ções ­sexuais na hora erra­da, no local erra­do, em exces­so ou ter rela­ções insen­sa­tas.
Na hora erra­da sig­ni­fi­ca no fim de uma gra­vi­dez nor­mal, em momen­tos de reti­ro ou ocasiões em que este­ja­mos doen­tes. Locais erra­dos para relações sexuais são tem­plos, luga­res públi­cos ou à vista de ­outros. Ter rela­ções sexuais em exces­so sig­ni­fi­ca devo­tar-se tanto ao sexo que a pró­pria vita­li­da­de se esgo­ta. Sexo insen­sa­to equi­va­le a mas­tur­bar-se em exces­so, ven­der o corpo por dinhei­ro ou em troca de favo­res, ado­tar con­du­tas sexuais que desper­tem emoções desar­ra­zoa­das (ou seja, emo­ções que bro­tem da cobi­ça, da raiva ou da ignorância).

Não abu­sar de dro­gas ou bebi­das alcoólicas
Uma tra­du­ção mais lite­ral deste pre­cei­to seria: “Prometo abs­ter-me do entorpecimen­to e da impru­dên­cia resul­tan­tes da uti­li­za­ção de dro­gas ou da inges­tão de bebidas alcoó­li­cas”. Em pou­cas pala­vras, o pre­cei­to diz: não se entor­pe­ça. O pro­pó­si­to dele é evi­tar que faça­mos ou diga­mos coi­sas estú­pi­das enquan­to nos­sos sen­ti­dos estiverem alte­ra­dos sob o efei­to de dro­gas ou bebidas alcoó­li­cas.
Os qua­tro pri­mei­ros pre­cei­tos são em si vio­la­ções ­morais lesi­vas, prejudiciais aos outros por natu­re­za. Já o consumo de dro­gas ou de bebi­das alcoó­li­cas não seria algo intrin­se­ca­men­te malé­fi­co, uma vez que é um ato que pre­ju­di­ca mais diretamente o próprio usuário. Entretanto, o Buda adver­te que o con­su­mo des­sas subs­tân­cias alte­ra a consciência, tendo como resultado ­sérios lap­sos de dis­cer­ni­men­to e a con­se­quen­te violação dos outros pre­cei­tos.
Shastra Abhidharma-mahavibhasha conta uma his­tó­ria que ilus­tra como o con­su­mo de ­álcool pode levar à vio­la­ção de todos os ­outros pre­cei­tos. Refere-se a um budis­ta que se embe­be­dou e deci­diu rou­bar uma gali­nha de sua vizi­nha. Roubou, matou e comeu a ave. Quando a vizi­nha per­gun­tou se ele tinha visto a gali­nha, res­pon­deu que não. A par­tir daí, o sujei­to con­ti­nuou a devo­tar-se à pró­pria ruína, lan­çan­do olha­res las­ci­vos à vizi­nha e uti­li­zan­do com ela lin­gua­gem sexual­men­te pro­vo­ca­ti­va. A ­cadeia de even­tos que o levou a que­brar todos os Cinco Preceitos come­çou com o pri­mei­ro drin­que. Se não tives­se bebi­do, jamais teria plan­ta­do tan­tas semen­tes cár­mi­cas nega­ti­vas. Tenho cer­te­za de que todo mundo conhe­ce exem­plos pio­res do que esse no mundo atual.
Ao con­si­de­rar as con­se­quên­cias da vio­la­ção do prin­cí­pio rela­ti­vo a drogas e álcool, deve­mos levar em conta que o budis­mo é uma reli­gião de mora­li­da­de, autocontrole e sabedo­ria. Qualquer coisa que anu­vie a mente ou entor­pe­ça a razão inevita­vel­men­te diminui tanto nossa sabe­do­ria quan­to nosso auto­con­tro­le.

Quem qui­ser atra­ves­sar o gran­de ocea­no do nas­ci­men­to e morte deve obser­var os Cinco Preceitos de todo o cora­ção e com a mente por intei­ro.
Sutra Upasaka-shila (Sutra sobre os Preceitos de Upasaka)

A Importância da Moralidade
Quem não dá muita impor­tân­cia à mora­li­da­de geral­men­te acha que a obser­vân­cia de um códi­go de con­du­ta moral res­trin­ge a liber­da­de. Nada poderia estar mais longe da ver­da­de. A mora­li­da­de não cer­ceia nossa liberdade – liber­ta-nos da ilu­são.
As cor­ren­tes cár­mi­cas que nos apri­sio­nam à ilu­são só podem ser destruí­das por meio de uma vida moral. Em vez de ver a mora­li­da­de como um fardo desa­gra­dá­vel, devería­mos con­si­de­rá-la uma opor­tu­ni­da­de para uma vida mais subli­me. É ape­nas pela mora­li­da­de que nos dife­ren­cia­mos dos seres dos pla­nos de exis­tên­cia infe­rio­res.
Assim como a sere­ni­da­de e a com­pos­tu­ra são essen­ciais à medi­ta­ção, a moralidade é essen­cial ao cres­ci­men­to do ser huma­no. O obje­ti­vo dos Cinco Preceitos não é opri­mir, eles sim­ples­men­te cons­ti­tuem uma das três ins­tru­ções bási­cas pro­fe­ri­das pelo Buda sobre a evo­lu­ção rumo a uma cons­ciên­cia mais ele­va­da, que são:

  • mora­li­da­de;
  • medi­ta­ção;
  • sabe­do­ria.

Em ter­mos ­gerais, a medi­ta­ção ­baseia-se na mora­li­da­de, enquan­to a sabe­do­ria tem por fun­da­men­to a medi­ta­ção. A mora­li­da­de é o ali­cer­ce necessá­rio para a medi­ta­ção e para a sabe­do­ria.
De acor­do com o Buda, se seguir­mos os Cinco Preceitos, tere­mos uma melho­ra em nossa vida pre­sen­te e nas futu­ras, posto que esta­re­mos plan­tan­do as semen­tes de nosso futu­ro. Naturalmente, o êxito na obser­vân­cia dos Cinco Preceitos não é conquistado da noite para o dia. Leva tempo para a mente iludi­da se abrir total­men­te às gran­dio­sas e liberta­do­ras expan­sões de sabedoria que se des­cor­ti­nam quan­do a mente come­ça­ a compreender os níveis mais ele­va­dos.
Raras são as pes­soas que con­se­guem ­seguir todos os Cinco Precei­tos desde o momen­to em que tomam con­ta­to com eles pela pri­mei­ra vez. Por isso, o Buda recomendou que, no come­ço, os prin­cí­pios sejam obser­va­dos de forma gra­dual. Primeiro, seguin­do o prin­cí­pio de não matar; em segui­da, passa-se a cada um dos ­outros três, terminan­do com o prin­cí­pio rela­ti­vo a não abusar de dro­gas e ­álcool.
A esse res­pei­to, o Tratado sobre a Perfeição da Grande Sabedoria diz: “Existem Cinco Preceitos. No pro­ces­so de apren­dê-los, deve-se ini­ciar com o prin­cí­pio de não matar e seguir daí até apren­der a ­seguir o prin­cí­pio sobre não con­su­mir bebi­das inebriantes. Quando um pre­cei­to é obser­va­do, diz-se que o pri­mei­ro passo foi dado. Quando dois ou três são obser­va­dos, diz-se que alguns pas­sos foram dados. Quando quatro prin­cí­pios já podem ser observados, diz-se que a maio­ria dos pas­sos já foi dada. Quando todos os Cinco Princípios são segui­dos, diz-se que os pre­cei­tos foram cum­pri­dos. Nesse pro­ces­so, devem-se conside­rar as incli­na­ções pes­soais para deci­dir a sequência em que se vão aprender os precei­tos”.
Sendo a mora­li­da­de, a medi­ta­ção e a sabe­do­ria as três cate­go­riasem que o Budadivi­diu seus ensi­na­men­tos, são tam­bém três as clas­ses de transgres­sões con­tra os preceitos:

  • trans­gres­sões do corpo;
  • trans­gres­sões da fala;
  • trans­gres­sões da mente.

Os pre­cei­tos de não matar, não rou­bar e não ter má con­du­ta ­sexual dizem res­pei­to às ativida­des do corpo, ao passo que o de não men­tir se associa à fala. Todos os pre­cei­tos têm a ver com a mente, é claro, pois todas as ações e inten­ções nas­cem na mente.
Corpo, fala e mente não guar­dam cor­res­pon­dên­cia exata com moralidade, meditação e sabe­do­ria, ape­sar de esta­rem envol­vi­dos com as mes­mas áreas. Com a morali­da­de, aprende­mos a con­tro­lar os atos do corpo. Com a medi­ta­ção, apren­de­mos a con­tro­lar a lingua­gem e a elaboração de conceitos. Com a sabe­do­ria comum, apren­de­mos a uti­li­zar a mente para aju­dar o pró­xi­mo e, simul­ta­nea­men­te, a nós mes­mos. No Sutra do Grande Nirvana, o Buda diz: “Ananda, esses pre­cei­tos morais devem pas­sar a ser seu maior mestre. Observando-os e fun­da­men­tan­do neles a sua prá­ti­ca, você con­quis­ta­rá o samádi pro­fun­do e a sabe­do­ria que trans­cen­de a tudo neste mundo”.
De acor­do com o Sutra Sandhi-nirmochana (Sutra Elucidativo da Profundidade do Irrevelado), levar uma vida moral, seguin­do os Cinco Preceitos, con­fe­re-nos dez bên­çãos. O sutra diz que, em últi­ma ins­tân­cia, a moralida­de nos leva a con­quis­tar o esta­do de onis­ciên­cia; a ­ganhar a capacidade de aprender como um Buda apren­de; a nunca prejudicar os ­sábios; a manter os nos­sos votos; a ter paz; a con­quis­tar o não apego à vida e à morte; a desejar o nir­va­na; a ter uma mente imaculada; a che­gar ao mais eleva­do samádi, ou con­cen­tra­ção; a ter fé firme e reso­lu­ta.
O Buda sem­pre pedia que seus mon­ges se mantives­sem cal­mos e se mostras­sem calmos. A mora­li­da­de pode ser con­ce­bi­da como um tipo de serenida­de que é muito confor­tá­vel para aque­le que a pra­ti­ca. Vivendo de acordo com os Cinco Preceitos, começa­mos a nos sintoni­zar não só com os ensi­na­men­tos do Buda, mas tam­bém com a pura mente do Buda inte­rior. A tran­qui­li­da­de fun­da­da na ins­pi­ra­ção que emana da mente búdi­ca ­jamais pode ser aba­la­da e sem­pre se mos­tra­rá cor­re­ta.

Aquele que obser­va os Cinco Preceitos é sem­pre superior até mesmo que o mais rico e pode­roso que os vio­la.
A fra­grân­cia das flo­res e da doce madei­ra ao longe não pode ser sen­ti­da, mas a doce fra­grân­cia da mora­li­da­de em todas as dez dire­ções será sen­ti­da. 
Aquele que obser­va os Cinco Preceitos está sempre ale­gre e satis­fei­to e sua boa repu­ta­ção à distância será conhe­ci­da; seres celes­tiais amor e res­pei­to por ele sentirão e sua vida neste mundo será com doce êxta­se preenchida.
Tratado sobre a Perfeição da Grande Sabedoria

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Creio que depois de haver esclarecido esses pontos fundamentais podemos passar para uma explanação bastante sintética dos conceitos mais importantes, que nos dão a base para uma introdução ao budismo "conceitual".


- Os três Pilares do Budismo.


O primeiro conceito fundamental do budismo está expresso no verso 183 do Dhamapada:

Sabbapapassa akaranam
ku salassa upasampada
sacittapariyodapanam
etam buddhana sasanam.

Evitar todo o mal, 
Cultivar o bem, 
Purificar a própria mente: 
Esse é o ensinamento dos Budas."

Ele é chamado dos Três Pilares do Budismo, e é sobre esses pilares e a compreensão do “Caminho do Meio”, que se apoia toda a filosofia do Budismo.


- Caminho do Meio.


Um importante princípio orientador da prática budista é o Caminho do Meio, que se diz ter sido descoberto pelo Buda, antes de sua iluminação. O Caminho do Meio tem várias definições:

1-     A prática de não-extremismo: um caminho de moderação e distância entre a autoindulgência e a morte;

2-     O meio-termo entre determinadas visões metafísicas;

3-     Uma explicação do nirvana (perfeita iluminação), um estado no qual fica claro que todas as dualidades aparentes no mundo são ilusórias;





- Paramitas


Pāramitā "Perfeição" ou "Transcendente" ("Que alcançou a outra margem"). No budismo, chama-se deparamitas as perfeições ou culminações de certas práticas. Tais práticas são cultivadas por arahants e bodhisattvas para percorrer o caminho da vida sensorial (samsara) à iluminação (nirvana).

No budismo theravada, as "Dez Perfeições" são (termos originais em pali):

1-  Dana parami : generosidade, doação
2-  Sila parami : virtude, moralidade, conduta apropriada
3-  Nekhamma parami : renúncia
4-  Panna parami : sabedoria transcendente, "insight"
5-  Viriya parami : energia, diligência, vigor, esforço
6-  Khanti parami : paciência, tolerância, aceitação, resistência
7-  Sacca parami : veracidade, honestidade
8-  Aditthana parami : determinação, resolução
9-  Metta parami : amor gentil
10- Upekkha parami : equanimidade, serenidade

No budismo mahayana, os sutras da Perfeição da Sabedoria  e o Sutra do Lótus listam as "Seis Perfeições" 
(termos originais em sânscrito):

1- Dana paramita : generosidade, doação
2- Sila paramita : virtude, moralidade, conduta apropriada
3- Shanti paramita : paciência, tolerância, auto-domínio, aceitação, resistência
4- Virya paramita : energia, diligência, vigor, esforço
5- Dhyana paramita : meditação, concentração, contemplação
6- Prajna paramita : sabedoria transcendental, insight

O Sutra dos Dez Estágios (Dasabhumika), escrito posteriormente, menciona mais quatro;

7-   Upaya paramita: meios hábeis
8-   Pranidhana paramita: voto, resolução, aspiração, determinação
9-   Bala paramita: poder espiritual
10- Jnana paramita: conhecimento, sabedoria


Texto original
Cologne Digital Sanskrit Lexicon: Search Results

<><><><>
1
Paramita
ido para a margem oposta; cruzados, atravessou; transcendente (Paramita) vinda ou levando 
à reversão da opinião opositiva, a realização completa, a perfeição em; virtude transcedental
 (Dana, Silá, Shanti, Virya, Dhyana, Prajna, são adicionados às vezes: Sacca, Adhisthana, 
Metta, Upekkha) MWB. 128 (cf. Dharmas. Xvii, xviii).
2
Paramita

paraya ver abaixo de {PARA}.


- As Quatro Nobres Verdades e O Nobre Óctuplo Caminho.


As Quatro Nobres Verdades (em sânscrito: catvāri āryasatyāni; Wyle: 'phags pa'i bden pa bzhi; em páli: cattāri ariyasaccāni) são um dos mais fundamentais ensinamentos e o centro da doutrina do Budismo. Em termos resumidos, estas nobres verdades referem-se ao sofrimento (dukkha), sua natureza, sua origem, sua cessação e o caminho que conduz a essa cessação. Os budistas consideram que as Quatro Nobres Verdades estão entre as diversas experiências que Sidarta Gautama realizou durante sua tentativa de iluminação.1


As Quatro Nobres Verdades aparecem diversas vezes ao longo dos mais antigos textos budistas, no Cânone Páli. Os primeiros ensinos e a compreensão tradicional no Budismo Teravada que é as Quatro Nobres Verdades são ensinamentos avançados para aqueles que estão prontos a elas. O Budismo Mahaiana considera-as como um ensinamento prejudicial para as pessoas que não estão prontas para seus próprios ensinamentos.


1- A Realidade do Sofrimento (Dukkha):


"Esta é a nobre verdade do sofrimento. Muitas vezes a primeira Nobre Verdade proferida por Buda Shakyamuni após sua iluminação é traduzida como "A vida é sofrimento", ou "Existe sofrimento", sempre indicando a natureza sofrida da vida. Em um primeiro momento esse ensinamento pode parecer demasiado pessimista e deprimente. Mas isso se deve à tradução simplista do termo. A primeira Nobre Verdade diz respeito à dukkha, que não tem uma tradução literal, mas sim é todo um conjunto de idéias. Assim é possível expressar que nascimento é sofrimento, envelhecimento é sofrimento, enfermidade é sofrimento, morte é sofrimento; tristeza, lamentação, dor, angústia e desespero são sofrimentos; a união com aquilo que é desprazeroso é sofrimento; a separação daquilo que é prazeroso é sofrimento; não obter o que queremos é sofrimento; em resumo, os cinco agregados influenciados pelo apego são sofrimento." De uma maneira geral, dukkha diz respeito ao nosso condicionamento de vida dentro de experiências cíclicas, onde nos alternamos entre boas experiências (felicidade) e más experiências (sofrimento). 

Todos os seres buscam a felicidade e procuram se afastar do sofrimento, no entanto nessa busca de felicidade e dentro da própria felicidade encontrada estão as sementes de sofrimentos futuros. 

Podemos pensar da seguinte maneira: sofremos porque não temos algo; sofremos porque conseguimos algo e temos medo de perder; sofremos porque temos algo que parecia bom, mas agora não é tão bom assim; e sofremos porque temos algo que queremos nos livrar e não conseguimos. Podemos ver então que mesmo que tenhamos sucesso na nossa experiência de felicidade, ela mesmo pode se tornar causa de uma experiência de sofrimento. Além disso, as experiências são impermanentes, as idéias, os conceitos, os pensamentos, todos são impermanentes, mudam. Por isso, dentro da experiência de felicidade existe a causa de uma experiência de sofrimento, pois ela também é impermanente e irá mudar.

2- A Realidade da Origem do Sofrimento (Samudaya):


"Esta é a nobre verdade da origem do sofrimento: é este desejo que conduz a uma renovada existência, acompanhado pela cobiça e pelo prazer, buscando o prazer aqui e ali; isto é, o desejo pelos prazeres sensuais, o desejo por ser/existir, o desejo por não ser/existir."

3- A Realidade da Cessação do Sofrimento (Nirodha):


"Esta é a nobre verdade da cessação do sofrimento: é o desaparecimento e cessação sem deixar vestígios daquele mesmo desejo, o abandono e renúncia a ele, a libertação dele, a independência dele."

4- A Realidade do Caminho (Magga) para a Cessação do Sofrimento:


"Esta é a nobre verdade do caminho que conduz à cessação do sofrimento: é este Nobre Caminho Óctuplo: entendimento correto, pensamento correto, linguagem correta, ação correta, modo de vida correto, esforço correto, atenção plena correta, concentração correta."


O Nobre Caminho Óctuplo é, nos ensinamentos do Buda, um conjunto de oito práticas que correspondem à quarta nobre verdade do budismo. Também é conhecido como o "caminho do meio" porque é baseado na moderação e na harmonia, sem cair em extremos.

Essas oito práticas estão descritas nesta passagem:1

"Agora, bhikkhus, esta é a nobre verdade do caminho que conduz à cessação do sofrimento: é este Nobre Caminho Óctuplo: entendimento correto, pensamento correto, linguagem correta, ação correta, modo de vida correto, esforço correto, atenção plena correta, concentração correta."

-- SN LVI.11


Compreensão correta: Conhecer as Quatro Nobres Verdades de maneira a entender as coisas como elas realmente são, e com isso gerar uma motivação de querer se liberar de dukkha e ajudar os outros seres a fazerem o mesmo.

Pensamento correto: Desenvolver as nobres qualidades da bondade amorosa, não tendo má vontade em relação aos outros, não querendo causar o mal (nem em pensamento), não ser avarento, e em suma, não ser egoísta.

Fala correta: Abster-se de mentir, falar em vão, usar palavras ásperas ou caluniosas, e ao invés disso, falar a verdade, ter uma fala construtiva, harmoniosa, conciliadora.
Ação correta: Promover a vida, praticar a generosidade e não causar o sofrimento através de práticas moralistas.

Meio de vida correto: Compreender e respeitar o próprio corpo, olhar os outros com amor, compaixão, alegria e equanimidade, que são as quatro qualidades incomensuráveis, e na prática do dia-a-dia, praticar os seis paramitas da generosidade, ética, paz, esforço, concentração e sabedoria. Também inclui ter uma profissão que não esteja em desacordo com os princípios.

Esforço correto: Praticar autodisciplina para obter a quietude e atenção da mente, de maneira a evitar estados de mente maléficos e desenvolver estados de mente sãos.

Atenção correta: Desenvolver completa consciência de todas as ações do corpo, fala e mente para evitar atos insanos, através da contemplação da natureza verdadeira de todas as coisas.

Concentração correta: A partir da concentração, a mente entra em estado contemplativo e em seguida vem o nirvana.


A roda do Dharma, frequentemente usada para representar o nobre caminho óctuplo.

O nobre caminho óctuplo é uma técnica usada para erradicar a ganância, o ódio e a ilusão. Em todos os elementos do nobre caminho óctuplo a palavra "Correto" é uma tradução da palavra samyañc (Sânscrito) ou sammā (Pāli), que denota plenitude, e coerência, e que possui o sentido de "perfeito" ou "ideal".2

No simbolismo budista, o nobre caminho óctuplo é frequentemente representado pela roda do dharma, cujos oito aros representam os oito elementos do caminho.


- A verdadeira natureza dos fenômenos.

Buda (sânscrito-devanagari: बुद्ध, transliterado Buddha, que significa "Desperto" , do radical Budh-, "despertar") é um título dado na filosofia budista àqueles que despertaram plenamente para a verdadeira natureza dos fenômenos e se puseram a divulgar tal descoberta aos demais seres. "A verdadeira natureza dos fenômenos", aqui, quer dizer o entendimento de que todos os fenômenos são impermanentes, insatisfatórios e impessoais. Tornando-se consciente dessas características da realidade, seria possível viver de maneira plena, livre dos condicionamentos mentais que causam a insatisfação, o descontentamento, o sofrimento.

"Esses fenômenos são exemplificados no Maka Shikan e no Hokke Gengi de Tientai, chamados de Junyoze ou “Dez similitudes” e são os seguintes:

Aparência (Nyoze-so): Manifestação externa, aquilo que percebemos pelos sentidos, como forma, cor, tamanho, etc

Natureza (Nyoze-sho): Disposições que incluem instintos, mente e consciência

Substância (Ser) (Nyoze-tai): É o fenômeno vida em si mesmo, manifesto em todos os reinos da existência

Poder (Nyoze-riki): É a capacidade de agir

Função (Influência) (Nyoze-sa): É a função exercida pela vontade, pelo meio, pelos sentimentos, pelas forças internas e externas.

Causa (Causa Inerente) (Nyoze-in): É o que produz o efeito

Condição (Relação) (Nyoze-in) : É tudo o que auxilia a manifestação do efeito

Efeito Latente (Nyoze-ka): Efeito produzido no interior da mente ativado pela relação ou causa auxiliar.

Efeito manifesto (Nyoze-ho): É o resultado concreto de ação, palavra e pensamento

Identidade consistente do início ao fim (Nyoze Honmatsu Kukyoto): É a perfusão do Caminho do Meio em todos os fenômenos."

  
 "A Roda dos doze elos das causas e condições ou de produção dependente" é o ensinamento sobre a origem do sofrimento, que explica nossa existência dentro do mundo que sufoca os mortais: o samsara (vida-morte-renascimento) e o triplo-mundo (mundo dos três planos).

Este ensinamento foi desenvolvido a partir do ciclo triplo (karma, inquietação mental, angústia emocional) na forma de uma roda com 12 elos, que descreve os desejos vorazes, desde a própria ignorância à existência de um ego.




O ciclo triplo é o seguinte: 

- As klesas (condições emocionais) geram o karma (causas de destino espiritual inadequadas); O karma (causas de destino espiritual inadequadas) geram as duhkhas (inquietações mentais); As duhkhas (inquietações mentais) geram as klesas (condições emocionais).




A origem, são a ignorância (a mãe) e atos voluntários (o pai), os dois elementos que interagem e alimentam o ciclo de vida, morte e renascimentos (samsara):

- As causas do passado : 

1. A Ignorância ; 2. Os Atos voluntários (com base na ignorância);

- Os efeitos no presente: 

3. A Consciência; 4. O Nome e a forma (matéria - espírito) A Dualidade ; 5. Os seis sentidos ; 6. O Contato; 7. As Sensações;

- As causas do futuro: 

8. O Desejo ardente; 9. O Apego; 10. O Desenvolvimento de uma existência do ego;

- Os efeitos no futuro: 

11. O Nascimento; 12. A Velhice e a morte.


O Maka Shikan diz: "Sem a iluminação surgem desejos sensoriais (e outros klesas )


1 - Não ser despertado é a ignorância .

2 - O surgimento do desejo sensual é um ato voluntário (baseado na ignorância );

3 - A consciência dos desejos sensoriais, juntamente os outros quatro agregados do "eu" (corpo, sentidos, pensamentos, volições);

4 - Na sua continuidade dão origem à ilusão do "eu" temporal dando origem também à dualidade do nome e da forma (espírito/ matéria);

5 - As fontes do corpo físico dão origem a seis entradas (sentidos, faculdades sensoriais);

6 - As faculdades sensoriais são conectadas às seis sensações e isso dá origem ao contato;

7 - Aceitar e seguir as sensações conduzem aos sentimentos;

8 - Regozijar-nos nesses sentimentos e na sua procura da origem aos desejos vorazes;

9 - Os desejos vorazes são interligados ao apego;

10 - A produção de atos (karma) desenvolve a existência de um ego;

11 - Agregados do "eu", que se assomam no futuro, dão origem ao nascimento;

12 - Os agregados em situações de deterioração conduzem à velhice. E quando eles se desintegram, o resultado é a morte. 


Estes são os doze elos interdependentes da roda da causalidade."



- Dharma  e Espiritualidade


Dharma é uma palavra sânscrita que significa literalmente Lei, mas no contexto budista seria melhor descrito como "realidade espiritual" ou "espiritualidade". O Buda despertou para a realidade do Dharma (a Realidade espiritual), pela primeira vez quando ele atingiu o estado de Buda meditando sob a árvore Bodhi em Gaya , há aproximadamente 2500 anos. Ele passou o resto de sua vida ensinando o Dharma aos seus discípulos. Na verdade, os próprios ensinamentos de Buda são chamados de Dharma. Dharma não é algo estranho à nossa existência humana comum. 

Os Mundos-estado (estado de existência) (dharmadhatu) constituem a realidade da nossa própria mente. Este é também o espírito do Buda e de todos os seres vivos. O Dharma é o conjunto dos três. Mas, na verdade é uma única realidade.

Zhiyi escreveu em seu livro Significado Oculto da Flor do Dharma: "O Sutra do Lótus diz: "Os Budas desejam abrir para todos os seres o conhecimento e a visão de Buda e ajudá-los a adquirir a iluminação".  Como este sutra poderia falar em "abrir o conhecimento e a visão de Buda" se as coisas que vivem já não os tivessem em si? Evidentemente, este conhecimento e visão residem em todos os seres vivos .

No Sutra do Lótus lê-se: "Pare, pare, é desnecessário dizer mais. O Dharma é maravilhoso e inconcebível."

É maravilhoso saber que a iluminação é real e transitória e não é apenas destinada aos Budas.

Lê-se no Sutra do Lótus: "No desenvolvimento de suas mentes eles observam o aspecto real de todos os fenômenos (shoho jisso), sem ser incomodado e sem regressão, aceitando e mantendo-o em todos os momentos do pensamento "

Esta é a realidade da nossa própria mente.

No Sutra do método de contemplação do Bodhisattva Samantabhadra lê-se:

"Quando a mente está vazia de si mesma, não é a pessoa a cometer o bem ou o mal."

E no Sutra da guirlanda de flores: "A mente, Buda e todos os seres vivos são uma trindade inseparável."

1. Quando falamos de espiritualidade (Dharma) de todos os seres vivos, referi-mo-nos à causa e efeito, e a todos os dharmas (fenômenos).

2. Quando falamos sobre a espiritualidade de Buda, nos referimos ao efeito.

3. Quando falamos sobre a espiritualidade de nossas próprias mentes, nos referimos à causa.

Quadro-resumo dos três aspectos da mente em termos de passado e presente.

Aspecto da Dharma
Componente do Caminho Espiritual
Causa e Efeito prático da espiritualidade
Analogia moderna
Buda
Despertar
Efeito da prática
Além do ego
Mente individual
Jornada espiritual pessoal
Devido à prática
Eu
Todos os seres vivos
A natureza humana básica
Causalidade
Eu


O Buda explicou o Dharma (realidade espiritual) de várias maneiras: as Quatro Nobres Verdades e a roda de 12 elos de produção condicionados ou "duas verdades - três verdades, em uma  só verdade", etc. Cada instrução é adaptada às capacidades daqueles a quem ele se dirigiu. Todos esses ensinamentos eram diferentes maneiras de analisar e explicar o Dharma, para que as pessoas compreendessem a realidade  na sua totalidade, completamente.

No Sutra do Lótus, Dharma é explicado na forma dos Dez Mundos (dharmadatu) com dez modos de expressão de causalidade (ju nyoze) e, por extensão, os três mil mundos inerentes em todos os momentos do pensamento (Ichinen sanzen). 

Esta é uma descrição da causalidade e as condições do coração humano, desde as profundezas do inferno até o maior esclarecimento "A Iluminação".

Siga examinando:
OS DEZ MUNDOS OU ESTADOS  EXISTENCIAIS

Sânscrito
Português/Japonês
O veículo e o caminho
Reino espiritual
Buddha-yana
Despertar completo - Além de si e dos outros
Estado de Buddha/Butsu
O veículo único do estado de Buda
Terra Pura - Nirvana e a  Nobre  Via do Caminho Espiritual -Veículo do Despertar
Bodhisattva-yana
Alcançar a iluminação para si próprio e para os outros
Estado de Bodhisattva/Bosatsu
Compromisso com o Veículo Único
Pratyekabuddha-yana
Iluminação para si mesmo, somente.
Estado de Absorção/Engaku
Distanciamento dos Dois Veículos
Shravaka-yana
Discípulos espirituais
Ouvintes da Lei
Estado de Erudição/Shomon
Deva-gati
Mundo-estado dos devas
Estado de Alegria/Ten
As três boas vias
Mundo Saha  (Resistência) -
Mundo do sofrimento e da produção condicional / vida-morte-renascimento (samsara) -
Triplo mundo
Manusya gati-
Mundo-estado das pessoas humanas
Estado de Tranquilidade/Nin
Asura-gati
Mundo-estado dos demônios pessoais
Estado de Ira/Shura
Preta-gati
Mundo-estado de fome
Estado de Fome/Gaki
Os três maus caminhos
Tiragyoni gati-
Mundo-estado dos animais - a brutalidade
Estado de Animalidade/Tikusho
Naraka-gati
Mundo-estado de Inferno - o sofrimento
Estado de Inferno/Jigoku


"Eis aqui então exposto o "príncipio" do caminho para o entendimento do budismo, através de seus conceitos principais, e a consequente obtenção da Budeidade!"


Fontes:

http:/ / www.tientai.net/teachings/dharma/2vehicles/12wheel.htm

http:/ / www.tientai.net/teachings/dharma/6realms/fa1.htm

http://pt.wikipedia.org/wiki/Quatro_Nobres_Verdades

http://pt.wikipedia.org/wiki/Nobre_Caminho_Óctuplo

Les études de Nichiren

Imagens: Internet Google Images

Blog do Reverendo André Otávio de Assis Muniz.





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