Budismo
Corpo, repetições e o manto
Pergunta – O sofrimento físico, não digo nem apenas somente a dor nas pernas, mas uma doença grave, uma ferida aberta, isso compromete este estado de lucidez e concentração?
Monge Genshô - Com certeza. Mente e corpo estão ligados. Se você está doente, a doença atrapalha você. Não adianta dizer que não é verdade, se você não cuidar do seu corpo, um dia ele começa a atrapalhar. Esses dias eu cheguei na minha casa e disse à minha esposa: “está na hora d´eu mudar de corpo porque esse aqui, já era, está com esclerose em articulação, artrose, etc, começa a dar problema”.
Então, o corpo é um instrumento muito necessário, uma âncora que segura você aqui, e permite fazer uma determinada prática. Se você perde o corpo, muitas portas de acesso ao universo são fechadas, o olhar, os ouvidos, nós usamos o corpo muito, ele não é nem um pouco desprezível. Então quando nós dizemos “mente”, mente e corpo são uma coisa só. Por isso, cuide do seu corpo, e cuide da oportunidade que você tem agora, há uma oração no fim do dia nos mosteiros Zen, que diz assim: “praticantes eu lhes peço encarecidamente, não percam tempo, porque o tempo rapidamente transcorre e a oportunidade se perde”.
Vocês têm a oportunidade de praticar e despertar. A outra forma é: continuem iludidos. Morram iludidos, nasçam iludidos e repitam tudo de novo. Esse na realidade é que é o verdadeiro castigo, ficar preso aqui, repetindo tudo de novo. Já pensaram? Vou morrer, aí eu nasço, não sei quem sou, mamãe me dá um nome, me manda para o colégio, eu tenho que aprender tudo de novo, aí tem colegas mais fortes para me dar cascudos, tudo de novo! Começar ignorante, tudo de novo. Isso é o verdadeiro castigo, porque a única coisa com que você conta quando nasce, que você pode levar, é seu carma.
Então você tem que ter um carma que direcione você para coisas melhores e certas, senão você vai ser direcionado para as coisas piores. É uma péssima idéia, por exemplo, morrer de overdose. Nascer de novo com vontade de se drogar? Uma péssima idéia morrer com raiva, já nascer num mundo de ódios. É uma boa idéia morrer com os pensamentos mais belos, e a vontade de se manifestar num mundo belo, num lugar com pessoas de bons sentimentos.
Nós dizemos que a prática tem imenso poder. Nós dizemos que o manto budista tem grande poder. Há uma história de uns ladrões que roubaram o manto de um monge, e levaram para um cabaré, deram para uma prostituta e disseram, “te veste de monja e faz um strip tease em cima das mesas”. E sob os assobios e palmas dos homens ela fez o strip tease com o manto do monge. E por causa disso, ela renasceu em uma família budista e recebeu excelentes ensinamentos e tornou-se uma monja. Pois é. Tal o poder do manto. Como a história budista é surpreendente não é? Todo mundo fica esperando um castigo, e não tem. Portanto, é grande bênção ter esse contato.
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