Budismo
Mantendo a lucidez
 
 
Pergunta – Com relação ao Bodhisattva, ele seria um ser que renunciou  à sua extinção para ajudar a nós que estamos deludidos não é? Pensando  assim, não seria lógico que esses seres que fizeram essa renúncia seriam  uma ajuda para que a gente consiga alcançar a iluminação? Queria  entender a relação do Zen com os Bodhisattvas ou esses seres.
  Monge Genshô - O Bodhisattva, quando mestre,  diz pra você: “o caminho é  esse, faça assim, cuidado, tem essa curva aqui que é perigosa, tem essa  pedra em tal lugar, leve um tênis para percorrer essa trilha”, mas quem  tem que ir é você. No fim da trilha, há uma fonte de água pura, ele  jamais vai poder beber por você, é você quem tem que chegar lá e beber.  Então os Bodhisattvas, os mestres todos são MUITO úteis, mas de novo,  não é algo mágico, nada de extraordinário, não existem seres lá fora que  vão nos ajudar. Se existissem seres lá fora que tivessem o poder de nos  ajudar, eles estariam ajudando agora sem a gente pedir. Se Buda pudesse  nos ajudar, ele ajudaria, não precisaria pedir. Se ele não ajuda é  porque ele não pode.
 Se você tem um filho e seu filho cai, você  espera que ele peça para você ir até ele ajudá-lo a se levantar? Nunca.  Vocês acham que são piores que os Budas? Não, não são. Então se nós  caimos e tropeçamos e temos doenças e tudo mais, para quem lá fora nós  vamos pedir que nos ajude? Para ninguém.
 Eu tenho um neto com  leucemia. Quando eu era criança e uma criança tinha leucemia, as  famílias rezavam e oravam para todos os santos e deuses, e 100% das  crianças morriam. Hoje, 85% das crianças sobrevivem a leucemia, porque  há quimioterapia, há transplante de medula. Para quem nós devemos  agradecer? Porque as orações continuam sendo feitas hoje. E as orações  eram feitas ontem. A diferença é a quimioterapia. Eu tenho que agradecer  aos médicos que criaram a quimioterapia. Aos laboratórios. Aos que se  empenharam para vender uma cura, seja qual for o seu interesse. É a eles  que eu tenho que agradecer. Porque as orações são as mesmas do passado.
  Em geral as pessoas não gostam de ouvir isso no Zen. As pessoas fazem  esse tipo de pergunta e dou esse tipo de resposta e fica todo mundo meio  apático e surpreendido. Mas é a pura verdade. Então nós jamais vamos  até Buda e oramos para ele e pedimos que providencie isso ou aquilo.  Jamais fazemos isso no Zen, porque Buda morreu faz muito tempo, está  extinto, quem pode mudar as coisas somos nós, nós podemos mudar o mundo,  nós que temos poderes para mudar o mundo, não eles.
 O mundo é  extraordinário, andar sobre o chão é extraordinário, falar e ouvir é  extraordinário, que nós tenhamos corpos que funcionam é extraordinário,  que tenhamos mentes que pensem, que exista chá e que eu possa beber,  isso é mágico, é profundamente mágico.
 Como as pessoas não vêem o  extraordinário e o mágico que está presente na vida a todo instante, a  todo momento, querem procurar o algo mágico fora, não precisamos do algo  extraordinário, porque é mágico demais o que já está acontecendo aqui e  agora nessa sala.
 A iluminação é extraordinária? Sim é  extraordinária, mas é uma coisa tão comum e tão simples e está ao  alcance de todas as pessoas, é só uma questão de esforço, de empenho. A  iluminação é possível aqui e agora, como era possível para Buda. A  libertação é possível, ser um Bodhisattva é possível.
 Pergunta – O senhor comentou que não adianta a gente pedir ajuda externa e tenho uma  dúvida no sentido de que, se tem uma pessoa doente, os familiares se  reunirem para fazer uma oração, ou para rezar e canalizarem, isso existe  no Zen?
 Monge Genshô - Eu acho que existe na natureza não é?  Porque o que acontece é que você pode pegar as pessoas, grupo de  controle, como o exemplo que eu dei da leucemia. Funcionava antes?  Funciona agora? E você vê as diferenças. A diferença foi quimioterapia, a  diferença não foram as orações, as orações são as mesmas, e antes não  funcionavam. Foi o que acabei de explicar. Agora você me diz assim: “  nós estamos no Zen Monge, se alguém lhe pede para fazer uma oração para  alguém que está doente, o que o Senhor faz”? Eu oro.
 Morre um  amigo, acendo um incenso, recitamos sutras nós fazemos isso. Porque  fazemos? Porque se todas as coisas estão conectadas , não sei todos os  efeitos, eu não preciso nem dos efeitos para fazer isso. Porque nós  oramos nos funerais? Pelos vivos. Porque fazemos funerais? Porque os  vivos precisam dos funerais, não são os mortos. Compreende? Então nós  fazemos orações sim, recitações sim, cerimônias sim. Mas você tem que  entender “como” é, não perca a lucidez, não pense que é mágico, não diga  “nós oramos aqui, fizemos uma cerimônia, não precisa mais de médico”.  Não.
 É como um paciente que chega no seu consultório e que está  com dor de dente e diz que vai fazer uma oração que recebeu para uma  santa. Que não quer o tratamento. O que você faz? Nada, porque a  dor vai fazer o seu trabalho sozinha. Amanhã ele volta.
 De um  lado no Zen, nós não queremos perder de vista nossa lucidez, de outro,  nós não queremos jogar fora o que há de místico dentro da humanidade, o  que há dentro do espírito humano.
 Esses dias falei com um amigo  que foi à cidade de Colônia na Alemanha, e lhe disse: “visitastes a  catedral, subiu a torre”? E ele , “sim, 160  metros”! 700 anos pra  construir. Eu vou chegar na frente da catedral e dizer: “essa poesia em  pedra é uma tolice”? Ou eu vou dizer: “que obra magnífica do espírito  humano”! É magnífica sim e aponta para o céu.  
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