“Eu era um jovem praticante de Karatê quando um monge zen budista veio fazer uma palestra em minha academia. Ele vinha regularmente ensinar a pequena Sangha constituída quase exclusivamente de praticantes de artes marciais. Um belo dia ele chegou em meio à tarde, e como havia um grupo de karatê em pleno treinamento, o professor o convidou a fazer uma palestra de improviso para este público novo. Foi providenciada uma sala vazia, apenas com tatames, e os alunos convidados. Já que um professor de zen budismo estava oportunamente à nossa disposição, os que desejassem deveriam ir à sala ao lado para ouvir.
Explicou, o professor, que o zen budismo havia influenciado profundamente as artes marciais, sendo a base filosófica atrás delas.
Aproximadamente 30 karatecas reuniram-se na sala onde o monge aguardava de pé. Disciplinadamente alinharam-se junto às paredes. O monge olhou para todos sem dizer palavra. Voltou-se para a parede, ajoelhou-se em seiza ( a posição ajoelhada e sentada sobre os calcanhares que se usa nas artes marciais porque permite um levantar instantâneo), todos viraram-se para as paredes, a um sinal dele, entendendo que desejava um momento de concentração, como estavam
acostumados a fazer por um minuto antes das aulas. Porém ele bateu seu pequeno sino portátil e informou: - VINTE minutos.
O grupo tratou de agüentar estoicamente.
Apenas os praticantes de zen, eu e mais três professores, sabiam o que era ficar imóvel tanto tempo em seiza. Dores fortes tomam os joelhos e os calcanhares, câimbras as coxas, se não forem flexíveis. Contei quatro desistências, levantaram-se e saíram pela porta simplesmente. O sino tocou, o monge voltou-se, e todos o acompanharam aliviados virados para o centro. Seu olhar percorreu vagarosamente sem uma palavra toda a sala, rosto por rosto. Sem nenhuma explicação voltou-se novamente para a parede, tocou o sino e declarou firmemente: - Mais VINTE minutos.
Sem saber quando terminaria aquela tortura, debandaram um a um a maioria dos presentes.
Ouvia o ruído do levantar, a fricção do quimono e os passos abafados.
Após, o toque do sino marcando o final. Viramos para o centro. Éramos seis. Eu, três faixas pretas e dois dos 30 alunos convidados. Sem observações o monge principiou a falar, deu uma maravilhosa aula, e ao final explicou: - Aqueles que se levantaram vieram aqui apenas por curiosidade, não desejavam realmente encontrar algo essencial, o Dharma não pode ser concedido assim, temos que nos esforçar para merece-lo.”