Budismo
Seguindo o Meu Coração
Por: Denver E. Long
Se a única oração que você fizer na sua vida inteira for “obrigado” (agradecimento), isso será o suficiente. Meister Eckhart
Quando eu era criança, eu passava muito tempo conversando comigo mesmo. Nada parecia mais natural do que fazer perguntas a mim mesmo e então esperar por uma resposta. E a resposta sempre veio. Ela vinha da “voz” dentro de mim. Quando eu queria saber a verdade sobre alguma coisa, ela nunca falhava.
Assim que fui ficando mais velho, eu confiava totalmente na sabedoria da minha “voz” interna. Ela sempre sabia o que tinha no meu coração e das coisas que eu queria para a minha vida. Eu gostaria de viver em lugares muito interessantes e únicos – o que satisfaria o meu lado artístico. Eu gostaria de me formar na faculdade e viajar pelo mundo. Eu também gostaria de ser um professor universitário. Mas, o mais importante de tudo, eu gostaria de encontrar o amor da minha vida, me apaixonar e viver feliz para sempre com ela.
Mas os anos se passaram e a voz foi se tornando cada vez mais fraca, até eu não conseguir ouvi-la mais. Apenas anos mais tarde, quando eu comecei a meditar ( entoar o mantra Nam-Myoho-Rengue-Kyo), que a voz voltou. Eu não sabia que aquela voz era a minha sabedoria interna, meu eu superior, ou como os budistas falam: minha natureza de Buda e não um amiguinho invisível da infância. Essa voz estaria comigo por toda a minha vida, apenas a capacidade de escutá-la que faria a diferença.
Uma semana após receber meu diploma em Desenho Industrial eu estava num avião indo para Washington para começar um treinamento como voluntário da US Peace Corps. Eu fui designado para atuar em Serra Leoa, oeste da África. Meu estado natal, Indiana, estava prestes a se tornar uma memória distante.
A primeira fase do treinamento seria em Washington onde eu aprenderia sobre a língua e costumes locais, depois eu seguiria para a Jamaica para iniciar a próxima fase do treinamento na Escola de Agricultura.
Devido a alguns problemas com o meu passaporte, eu cheguei na Jamaica dia 7 de julho, 4 dias após o restante do grupo. Consequentemente, quando cheguei lá, eu era a única pessoa para ser registrada e direcionada para a acomodação, e assim fui imediatamente para a Escola de Agricultura.
Uma linda jovem Jamaicana estava lá para fazer o meu registro, o nome dela era Joan. Como era somente eu para ser registrado, eu ganhei toda a atenção de Joan. Ela me fez algumas perguntas, eu respondi e também flertei com ela um pouco. Após 10 minutos eu olhei para ela e anunciei que ela seria a mulher com quem me casaria. Eu a assegurei que ela não precisava se preocupar. Talvez demorasse de 10 a 15 minutos para eu conquista-la ou 10 a 15 anos. Isso não importava. Eventualmente, ela seria a minha esposa. Ela riu tanto que instantaneamente nos tornamos amigos. Eu comecei a enviar cartas e fotos para a minha família sobre a minha “boneca jamaicana”.
Eu parti para as Ilhas Virgens para a próxima fase do meu treinamento na Universidade de West Indies, e então para o meu trabalho – de 2 anos - como voluntário em Serra Leoa numa escola de Bunumbu.
Após este período eu terminei morando em Chicago, desempregado e em depressão por um recente término de namoro. Foi aí, que um amigo me apresentou ao Budismo de Nitiren Daishonin. A princípio eu argumentei e discuti com ele, até que finalmente a gente fez um acordo.
Ele me disse para entoar o mantra para atingir qualquer objetivo, qualquer coisa que quisesse. O que eu queria era uma mansão de 3 andares localizada no distrito histórico de Chicago onde os milionários moravam antigamente.
O trato foi que eu meditaria por 1 hora diariamente e também faria a cerimônia de gongyo (leitura do sutra) pela manhã e noite durante 30 dias. Se eu não estivesse morando na mansão no final dos 30 dias, ele nunca mais falaria sobre o budismo de Nitiren ou meditação para mim novamente.
Ele me explicou que assim que você começa a meditar, você eleva a sua atitude, ou condição de vida, e a negatividade presente na sua vida começa a emergir, ela aparece para purificar a sua vida e ambiente no qual você vive.
Eu não acreditei em uma palavra que ele me disse, mas comecei a meditar todos os dias – apenas para provar que ele estava errado. Eu fui informado que a chave para o sucesso seria a consistência – continuar entoando o mantra apesar e acima de qualquer coisa.
Eu comecei então a sentar nos degraus da mansão vazia, onde eu queria morar, para fazer daimoku e o gongyo noturno – todos os dias ao entardecer eu estava lá fazendo a minha prática budista.
Eu comecei a atrair um grupo de pessoas bem estranhas, o local era tranquilo, numa rua um pouco isolada – eu ficava imaginando de onde aquelas pessoas tinham surgido. Eles eram muito estranhos, ficavam no começo da escadaria da casa olhando para mim , murmurando, andando em círculos e geralmente divertindo a si mesmos. Quem eram essas pessoas tão estranhas? Era isso a representação do que eu tinha dentro de mim?
Finalmente descobri que eles eram apenas um grupo de pacientes de um hospital mental local. Eles tinham sido atraídos pelo som do mantra e alguns até tentavam meditar junto comigo. Eu cheguei a conclusão que eles eram a representação do meu estado lunático por estar fazendo esse experimento OU eles eram mais puros em espirito do que o resto de nós e foram atraídos pelo aspecto espiritual do mantra. Em qualquer um dos casos, eu continuei meditando – fazendo a minha prática budista.
Através de uma série de eventos inacreditáveis, 30 dias após o início da prática budista – eu me mudei para aquela mansão. A primeira coisa que coloquei dentro dela foi o meu butsudan ( oratório/ altar budista).
Após isso, como o meu amigo tinha me informado, coisas que estavam profundamente enraizadas na minha vida começaram a aparecer. A maior parte delas tinha a ver com relacionamentos.
Eu recebi a noticia que meu melhor amigo em Indiana tinha morrido, meu pai e eu fomos ao velório e ao enterro – bastante emocionados com a perda do nosso grande amigo. Poucas semanas mais tarde, lá estava eu, no mesmo local – mesma funerária – ao lado do caixão do meu pai que tinha morrido inesperadamente. Após isso a minha tia e mais 2 amigos morreram. Eu estava profundamente confuso e com depressão, mas apesar disso tudo – eu continuei a meditar.
Então, numa noite enquanto eu entoava o mantra Nam-Myoho-Rengue-Kyo, eu ouvi a minha voz interna novamente. Foi como o reencontro de um amigo de infância. Eu fiquei profundamente sensibilizado. De repente eu me lembrei de Joan. Eu comecei a meditar com a determinação para que a Joan, a jovem que eu tinha conhecido na Jamaica, voltasse a fazer parte da minha vida. Eu não sabia se ela continuava morando na Jamaica ou se ela ainda estava viva.
Eu apenas comecei a fazer daimoku com todo o meu coração, apesar de nunca mais ter tido noticias dela - depois que fui embora da Jamaica, anos atrás.
Eu já estava meditando para ela por 2 semanas quando, numa noite, eu estava fazendo a cerimônia de gongyo, o telefone tocou e para a minha grande surpresa era Joan do outro lado da linha.
Quando eu a perguntei como ela tinha me achado e por que estava me ligando, ela disse que tinha pensado em mim nas ultimas 2 semanas. Ela agora morava em New York e estava indo visitar uma prima que viva em Evanston, um subúrbio perto de Chicago. Pensando como Indiana era perto de onde a prima dela morava, ela decidiu ligar para a telefonista para tentar me encontrar. Após aproximadamente 2 telefonemas ela conseguiu encontrar a minha mãe. A minha mãe imediatamente soube quem ela era pelas inúmeras cartas e fotos que enviei enquanto estava em treinamento na Jamaica.
Minha prática budista me levou a apreciar e cuidar de todos os relacionamentos que eu tenho na minha vida. Eu aprendi como valorizar, incentivar pessoas e não tê-las como um acontecimento natural – mas sim, como um presente. Aprendendo a ter mais consideração e apreciação pelos relacionamentos que eu tinha, Joan voltou a fazer parte da minha vida.
Dia 7 de julho, exatamente 16 anos após o nosso primeiro encontro naquele escritório de apoio aos voluntários, eu me casei com a minha doce boneca jamaicana.
Tradução não oficial do livro: The Buddha Next Door, ordinary people, extraordinary stories.
Autores: Zan Gaudioso e Greg Martin
ISBN: 978-0-9779245-1-6
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