Budismo
Estado de Alegria
"Uma condição de contentamento.Esta é a sexta publicação de uma série destinada a aprofundar a compreensão do princípio básico budista denominado “ Os Dez Estados de Vida ” ou “ Os Dez Mundos”. Os Dez Mundos estão contidos em um outro princípio chamado “ Itinen Sanzen” ( Três mil mundos em um instante momentâneo da vida) elucidado por Tientai no quinto volume do Maka Shikan ( Grande Concentração e Percepção) e ao qual Nitiren Daishonin frequentemente refere-se em suas escrituras. Várias religiões do mundo inteiro pregam a existência de um paraíso, um outro lugar onde tudo é felicidade. Após a morte, afirmam, iremos para esse paraíso, caso tenhamos sido bons. De acordo com a teoria budista dos Dez Mundos, contudo, o Êxtase ou Alegria ( Ten ) é uma condição de vida de contentamento, um verdadeiro “paraíso” na Terra. A alegria que experimentamos na condição de Êxtase origina-se de ter nossos desejos concretizados ou nossos problemas solucionados. Em Êxtase todo nosso ser parece sentir-se “leve”. Nós freqüentemente dizemos que estamos “caminhando no ar”, que “estamos nas nuvens” ou ainda “no topo do mundo”. Nitiren Daishonin caracterizou perfeitamente esta condição ao afirmar em “ O Verdadeiro Objeto de Adoração”, que “ O Estado de Alegria existe no mundo de Êxtase ” ou ainda “ Ser alegre é Ten” . Conseguir um aumento, apaixonar-se, comprar um carro, curar-se de uma doença, fazer uma nova descoberta - todas essas coisas e muitas outras, possibilitam-nos entrar no mundo de Alegria. As causas para a condição de Alegria são infinitas, assim como seus níveis. Ensinos provisórios descrevem o local onde os seres humanos vivem como o Mundo Tríplice; o Mundo do Desejo; o Mundo da Forma e o Mundo da Abstração ou Deformidade”. Segundo o ponto de vista da Índia antiga o Mundo Tríplice é aquele habitado pelos seres humanos que não atingiram a iluminação. O mundo do Inferno ao de Tranquilidade e parte do Mundo de Alegria estão inclusos no Mundo do Desejo. O Mundo da Forma e da Abstração fazem parte de divisões mais elevadas do Mundo de Alegria. O Vigésimo-sexto Sumo Prelado, Nitikan Shonin, escreveu em seu “Tratado sobre o Ensino Tríplice Secreto”: “Existem seis céus no Mundo do Desejo, dezoito no Mundo da Forma e quatro no Mundo da Abstração”. A afirmação da existência de 28 céus no mundo da Alegria simboliza a grande variedade de alegrias que experimentamos. O tipo de alegria que experimentamos difere de acordo com o Mundo Tríplice. O Mundo do Desejo compreende todos os cinco mundos inferiores - Inferno, Fome, Animalidade, Ira, Tranquilidade - em adição, parte do Mundo de Alegria. Esses mundos inferiores, como visto em edições passadas estão centralizados nos desejos e sofrimentos inerentes: o desejo pela vida, desejos instintivos, impulsos emocionais e desejos pelo bem - estar social e físico. Em suma, o Mundo do Desejo é literalmente um mundo cheio de desejos e alegria deste mundo é expressada pelo prazer abstrato que sentimos quando as nossas vontades imediatas são satisfeitas. Por exemplo, quando comemos nosso prato favorito, ou comemos quando estamos famintos, o nosso “sofrimento” é aliviado. O Mundo da Forma é um mundo material e físico, onde seus habitantes são livres de desejos, porém, ainda são limitados por alguns tipos de restrições materiais. A alegria deste mundo inclui a sensação de bem - estar, saúde e energia. Nós experimentamos essa alegria após um vigoroso exercício, quando sentimos revigorados ou quando exercitamos nossos talentos naturais. A Alegria no Mundo da Forma é uma felicidade mais profunda do que meramente possuir nossos desejos satisfeitos. O Presidente da SGI, Daisaku Ikeda, afirmou que neste mundo “ o fluxo somático está em harmonia com seu ambiente criando e sustentando eternamente nossa energia vital. È durante esse processo que a força criativa opera para prover alegria ao ser humano”. A satisfação ou contentamento espiritual caracteriza Êxtase ou Alegria no Mundo da Abstração. A alegria em conduzir uma vida plena, ou de auto - realização e criatividade refere-se ao Mundo de Abstração. A alegria que sentimos na condição deste estado são efêmeras e desaparecem com o passar do tempo ou ainda com a transformação das circunstâncias. O tempo passa incrivelmente rápido quando estamos envoltos no extase do Mundo da Alegria. Uma hora junto à pessoa a quem se ama parecem minutos, ao passo que na condição de Inferno, poucos segundos podem parecer horas. Um conto folclórico japonês ressalta a rapidez com que o tempo passa. Este conto narra a história de um jovem homem, Urashima Taro, que passa três agradáveis anos sob o mar no “palácio do Rei Dragão”. Quando retorna à superfície ele percebe que 300 anos haviam se passado. Ao abrir uma caixa de jóias que havia ganho enquanto estava sob o mar, transformou-se imediatamente num velho. Em uma de suas Escrituras, Nitiren Daishonin disse que o período de vida dos Quatro Reis Celestes, que representam o Mundo de Alegria, é de 500 anos, em que cada dia equivale a 50 anos da vida humana. Nós podemos compreender esta vasta extensão de tempo significando que uma incrível quantidade de experiência e realização está contida neste espaço de tempo, digamos, um dia em Alegria. Além disso, nestes termos, um dia em Alegria equivale a cem anos de vida normal. A obra “Ensinos Tríplices Secretos” de Nitikan Shonin afirma: “ Alegria reside num palácio”. No Mundo de Alegria mesmo nosso mais humilde lar parece um castelo. Nosso ambiente é adaptado à vida humana, nele todos os desejos podem ser satisfeitos, e pode-se desfrutar de uma vida de inteligência, consciência e amor. Porém, o Estado de Alegria é passageiro. Como o gosto de algo doce, cujo prazer logo acaba. A primeira mordida de um bolo de chocolate causa-nos grande prazer, porém, pela quinta ou sexta vez esse intenso prazer dá lugar a um mero contentamento. Também, freqüentemente vemos ou ouvimos de algumas pessoas que estudaram anos e anos, excedendo em suas áreas e realizando um perfeito trabalho, que pensando nos desafios e considerações da posição que ocupam sentem-se como se estivessem no topo do mundo. Conforme as semanas e meses passam, elas tendem a perder o entusiasmo, considerando o trabalho uma obrigação ao invés de um privilégio. Começam então a buscar um trabalho melhor, e quando encontram um, podem cair no Mundo da Fome, ou Animalidade depositando suas frustações em seus companheiros de trabalho ou família. Deste modo, Alegria assemelha-se a uma fina camada de gelo que cobre uma lagoa. O menor passo em falso poderá nos levar às profundezas gélidas dos Quatro Maus Caminhos. Na realidade, o Budismo descreve o conceito “ cinco tipos de declínio ” inerente no mundo da Alegria que resalta a efêmera natureza de Êxtase.
O Presidente Ikeda mencionou o seguinte ponto em um de suas orientações: “ Uma pessoa realmente bem sucedida é aquela que pode desfrutar de um livre e irrestrito estado de vida. Aquela que inclina-se ao esplendor transitório do Mundo de Êxtase ou Alegria não pode ser considerada bem sucedida. Conforme ensinado no Budismo, as pessoas no domínio da Alegria experimentam os cinco tipos de declínio. A alegria e sucesso no mundo de Alegria inevitalvemente acabarão assim como as folhas de uma árvore caem no outono”. Quando perdemos o algo que nos faz feliz, freqüentemente caímos nos Quatro Maus Caminhos. Quanto mais dependemos desse algo que nos faz feliz, mais profundamente cairemos nos mundos inferiores. Isso é o que o Budismo quer dizer com “ O Inferno reside no mundo da Alegria”. Conforme os desejos de uma pessoa são satisfeitos através da prática Budista, ela pode realizar várias coisas em benefício próprio, tornando-se complacente e esquecendo-se de empreender contínuos esforços no campo da fé. Este é o motivo de Nitiren Daishonin ter afirmado: “ Fortaleça sua fé dia após dia, mês após mês. Se enfraquecer mesmo um pouco, demônios aproveitar-se-ão “ (END, vol. I, pág. 304 ). No topo do Mundo do Desejo está sentado o Demônio do Sexto Céu. Sua alegria deriva de ser capaz de controlar e fazer uso dos outros. Como um vampiro, ele suga a força das pessoas, conduzindo-as à agonia do Mundo de Inferno. O Budismo reconhece que inerente em todo desejo - especialmente no desejo pela autoridade, poder e posse - existe este Demônio do Sexto Céu. Na escrita “Tratamento da Doença”, Nitiren Daishonin diz: “ A escuridão fundamental da vida de uma pessoa manifesta-se como o Demônio do Sexto Céu”. Esta “escuridão fundamental “ da vida é de onde o egocentrismo e a hipocrisia originam-se. O Presidente Ikeda tem afirmado: “A escuridão fundamental da vida humana possibilita transformar o desejo, o eu e a inteligência em força para o mal, e está presente no controle do governo, do capital, dos negócios e da ciência. Esta natureza pode ainda trazer a guerra, poluição e a destruição da natureza”. Pórem, como seres humanos possuímos o potencial para polir nossa inteligência com benevolência. Com a natureza de Buda inerente em nossas vidas podemos vencer este mal e nos tornar realmente livres e independentes. Devemos constantemente desenvolver essa humanidade e estarmos sempre atentos contra esta influência.
Infelizmente, nossa sociedade ensina que a realização de nossos desejos é a verdadeira felicidade. As pessoas entretanto, anseiam por uma vida na qual as alegrias momentâneas de Êxtase possam de alguma forma tornar-se permanentes. Ensina-nos que atingir o Estado de Alegria é o propósito último e a condição de vida mais elevada. Revistas de turismo tentam-nos com visões de um paraíso atingido através de uma curta viagem de avião. Companhias mostram-nos “ novas ” versões de seus produtos, clamando-nos a descartar dos velhos - ainda perfeitamente utilizáveis. A sociedade tenciona dizer que o que uma pessoa possui não é o suficiente: a verdadeira felicidade é ter algo, ser alguém, é poder estar em algum lugar especial. As pessoas tendem a sentir-se inadequadas ou deslocadas se não podem manter um determinado estilo de vida. A alegria então torna-se o mundo em que as pessoas buscam a ascensão. Como Budista nosso objetivo não é atingir o Mundo da Alegria mas o da iluminação. Na realidade, Êxtase ou Alegria não se encontra em algum lugar além, mas sim onde estamos agora. Alegria - a satisfação de nossos desejos ou da solução de nossos problemas - é ainda uma parte dos seis mundos inferiores ou seis caminhos. A alegria que experimentamos como budistas provém de nossa prática da fé e do modo de vida que conduzimos. Nossa maior alegria é viver o caminho de Mestre - discípulo, criando valores humanos, e atingindo a iluminação. Nitiren Daishonin afirma: “Não há maior felicidade para os seres humanos, que orar o Nam-myoho-renge-kyo” (END, vol. III, pág. 199). Como Budistas, naturalmente, experimentamos Alegria também. Porém, compreendemos que este estado é relativo, não se trata da felicidade absoluta. Nós atingimos nossos desejos como prova de nossa revolução humana, a transformação de nosso carma. A solução dos nossos problemas não é a verdadeira felicidade, tampouco a satisfação de nossos desejos. Enquanto desenvolvemos nossa condição de vida através da prática budista podemos desfrutar da Alegria pelo que ela é e não para nos tornar escravos dela, exatamente como Nitiren Daishonin afirma no mesmo Gosho: “Sofra o que tiver que sofrer. Desfrute o que existe para ser desfrutado. Considere tanto o sofrimento como a alegria como fatos da vida, e continue orando o Nam-myoho-renge-kyo, não obstante o que aconteça. Então, experimentará a infinita alegria da Lei”. Os primeiros seis mundos expostos nesta série, desde Inferno até Alegria, são conhecidos como Seis Mundos Inferiores. Nesses mundos, nosso estado de vida reage de acordo com o nosso meio ambiente. Influências externas regem nossa condição de vida. A maioria das pessoas despendem seu tempo num ciclo através desses seis caminhos, porém o Budismo afirma que estes não constituem a totalidade da existência. Através de esforços conscientes e da auto-reforma podemos experimentar a mais elevada condição de vida, os quatro nobres mundos: Erudição, Absorção, Bodhisattva e Estado de Buda." Fonte: T.C. nº 271 pág. 44, 45, 46 e 47 de 03/91 Seleção de texto: Doralice e Paulo Bruno. 21/05/97 Digitação - Paulo Bruno.
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