"Gostaria de saber se existem pessoas que atingiram o estado elevado de Buda sem a recitação do Nam-myoho-rengue-kyo ou se o único caminho para atingir a iluminação é a recitação do Daimoku."
De certa forma, podemos dizer que existe sim essa possibilidade, porém são condições de vida bem específicas, pois vai de acordo com o que se entende por iluminação.
Há pessoas grandiosas na história da humanidade. O presidente Ikeda frequentemente cita muitas delas em suas orientações — Gandhi, Martin Luther King Jr., Nelson Mandela, Charles Chaplin, Helen Keller, Jesus Cristo, entre outras.
Essas pessoas tornaram-se grandiosas na história não porque tiveram uma vida perfeita, de benefícios ou riquezas. Muito pelo contrário, nenhuma delas teve uma vida fácil.
Foram privadas, perseguidas, atacadas e até mortas, justamente porque dedicaram a vida em prol de algo maior do que si mesma. Ou seja, encontraram um propósito elevado, que despertou nelas um forte senso de missão — ideal de paz, libertação de um país, liberdade de expressão, luta em defesa dos direitos humanos, combate à discriminação e à miséria.
Em suas orientações, o presidente Ikeda transmite a grandiosidade do budismo sempre com base nos escritos de Nitiren Daishonin, de uma forma atual, prática e acessível. Quando ele cita essas pessoas grandiosas, enaltece a força do ser humano dedicado a um propósito elevado de vida — o ideal do humanismo em prol de muitos outros individuos.
Essas personalidades na história são extraordinárias! Elas possuem de maneira inata, qualidades incomparáveis e um ímpeto corajoso, que as levam a avançar mesmo em meio a terríveis provações. Coragem, benevolência, senso de missão, integridade, comprometimento inabalável, visão, sabedoria, ilimitada esperança, são aspectos inatos dessas pessoas grandiosas.
Mas, e eu, que sou uma pessoa comum e que não nasci com nada de especial?
Por ser comum, não tenho direito de me tornar extraordinário?
Será que, devido ao meu carma de mortal comum formado desde infinitas existências, não tenho causas para esses feitos extraordinários?
Se assim fosse, somente pessoas especiais teriam direito à iluminação. De certa forma, pensar assim, pode ser até perigoso.
Pode-se chegar a justificar o porquê de alguns poucos especiais dominarem muitos outros comuns.
Uma verdade grandiosa tem de servir para toda a humanidade, ser universal a todos sem nenhuma distinção.
Budismo é humanismo, pois elucida a força do ser humano e a força da vida como um todo.
Nitiren Daishonin nos revelou o Nam-myoho-rengue-kyo e o Gohonzon justamente para nos despertar para esse supremo estado de vida do Buda inerente em cada um de nós.
Por pior que seja o meu carma, mesmo que eu não tenha causas para os feitos grandiosos como os destas personalidades, por abraçar o Gohonzon, abraço a causa original da iluminação de todos os budas e bodhisattvas das três existências e das dez direções.
É a causa original, a essência da iluminação de todos os budas. Enfim, por meio dessa causa maior, enxergo, desperto e comprovo a natureza de Buda inerente desde o tempo sem início.
Esta verdadeira causa torna-se minha própria vida mediante a recitação do Nam-myoho-rengue-kyo ao Gohonzon.
O verdadeiro efeito dessa verdadeira causa é o estado de Buda dotado de todos estes aspectos extraordinários da vida humana. Qualquer carma pode ser transformado por meio do libertar deste poder de Buda inerente.
O presidente Ikeda orienta que esta é a era das pessoas comuns, a era do povo.
O ensino essencial do Sutra de Lótus de Sakyamuni é justamente o capítulo “Revelação da Vida Eterna do Buda”. Isso significa que, não importa o carma, por mais negativo que seja, o estado de Buda é inerente, sempre existiu na vida das pessoas.
A natureza de Buda não é algo a ser adquirido com o tempo ou com a prática, quando me tornar melhor ou especial. Não.
O potencial de Buda é eterno. Despertar para isso é atingir a iluminação.
Por abraçar o budismo, vejo com extrema clareza a grandiosidade da força humana. E, ao contrário de negar, com o budismo percebo a razão de existir e a força de outras religiões, quando inspiram ao ser humano evidenciar o humanismo e a grandiosidade da força de sua própria vida. Daí o respeito a todas as crenças, culturas e religiões.
Existem outros caminhos? Sim.
Mas, abraçar o Gohonzon, ter um mestre e o ideal grandioso do Kossen-rufu alicerçam a inabalável convicção como praticante budista de que este é o caminho direto e pleno para a condição de iluminação. Quando um caminho não é direto, podemos nos perder em direções que podem ser até contrárias.
Podemos dizer que a iluminação é a imensa alegria de consolidar o “grande eu”.
“Grande eu” significa “verdadeira autonomia” que possibilita fazer a vida agir sempre na relação de causa e efeito da iluminação, independentemente do que aconteça.
Na causa e efeito da iluminação, a causa original ou verdadeira causa é recitar o Nam-myoho-rengue-kyo ao Gohonzon com fé no potencial inato de Buda.
Efeito original ou verdadeiro efeito é a comprovação do estado de Buda.
A nossa vida frequentemente é controlada por causas e efeitos da infelicidade que nos arrastam para as causas e efeitos da impermanência.
É viver à mercê das circunstâncias, como um barquinho no meio da tempestade.
Contudo, a vida das pessoas que, por mais que enfrentem dificuldades e adversidades na vida cotidiana, conseguem superar a tudo com base na recitação do Daimoku, estará sempre fazendo a relação de causa e efeito da iluminação, embasada na Lei Mística.
O benefício fundamental da recitação do Daimoku é fazer com que a causa e o efeito da iluminação torne-se o centro das ações da vida.
Dessa forma, estabelece-se uma plena autonomia ou autodomínio da realidade ao invés de ser influenciado ou arrastado por ela, no ciclo do mau carma de pessoa comum.
Transformar os sofrimentos e inconstâncias de mortal comum, ou seja, os sofrimentos de causa e efeito da infelicidade em benefícios de causa e efeito da iluminação — é o caminho mais direto e pleno da prática budista.
Isso se estabelece na grande verdade de que a iluminação só pode ser encontrada na própria vida e nunca fora dela. Quando minha vida muda, o mundo muda.
A esse processo de profunda transformação chamamos de “revolução humana”.
Abraçar o budismo não é meramente escolher um caminho e descartar outros, estabelecer uma convicção, abandonando as demais.
Quando se abraça a Lei Mística, abraçamos tudo. Toda fé religiosa, todas as crenças, todas as culturas, todas as filosofias estão contidas na Lei Mística.
Por isso, não estou negando. Na verdade, não é escolher, e sim expandir a visão do mundo e da vida.
Por sermos budistas, compreendemos o ilimitado poder da vida humana, pois horizontes inteiros se abrem diante de nós.
Quando compreendemos isso, não somente com a lógica mas também com a vida, a esperança deixa de ser um sonho e torna-se uma convicção de vencer infalivelmente. Isso está de acordo com a máxima “quem olha para fora, sonha; quem olha para dentro, desperta”.
A transformação do carma é possível justamente porque compreendemos que a iluminação não está fora de nós. Enfim, os horizontes se abrem, não quando se olha para fora, mas sim ao enxergar a si mesmo.
Enxergar a si mesmo é o significado de iluminação.
Texto de Reginaldo Tateigi
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