Quem é este que não é mais enganado pelo eu?
Budismo

Quem é este que não é mais enganado pelo eu?



P: O senhor acredita que tenha essa habilidade de chegar ao Satori?

Monge Genshô – A resposta padrão é negar de plano, pois quem é este que teria deixado de se enganar pelo seu eu? Mas mostrando outro ponto: só meu mestre pode lhe responder a essa pergunta. É uma pergunta injusta. Se eu respondo que sim é uma resposta duvidosa, pois não há como você verificar. Qualquer pessoa poderia mentir e se você não tem a capacidade de verificar poderá acreditar, e a resposta verdadeira da de um impostor é indestinguível. Se você acredita que tenha tido um insight, deve ir até o professor e contar sua experiência e perguntar se é uma experiência legítima ou uma ilusão. Só ele pode lhe responder, pois somente quem teve uma experiência pode verificar a autenticidade de uma experiência alheia.

P: Na história das culturas temos uma série de relatos de utilização de substâncias psicoativas dentro de rituais religiosos, podemos dizer que também sejam métodos para atingir um kenshô?

Monge Genshô - Essa pergunta é bem complexa. Aldous Huxley escreveu um livro chamado “As Portas da Percepção”, onde ele relatava suas experiências com esse tipo de substâncias. Para o Budismo, há dois mil e seiscentos anos, a resposta é que não existe nenhum caminho fácil para o esclarecimento. A única virtude dessas experiências é colocar na mente das pessoas uma dúvida: existem coisas diferentes na mente. O problema é que estas experiências são falsas e não permitem um “Satori”, pois você jamais poderá controlar, será sempre dependente de uma substância para obter uma sensação. A grande virtude foi quebrar a crença de uma mente completamente racional.

A resposta do Budismo é taxativa: nenhuma substância que altere a consciência deverá ser usada por um praticante Budista. Deixando as coisas bem claras: se um aluno desejar fazer experiências deste tipo, por favor, deixe a nossa Sangha, pois não o quero como meu aluno. Ele deseja o caminho mais fácil.

Uma vez um de meus filhos resolveu pintar o cabelo de azul, então eu lhe disse que era um tolo e estava envergonhando a família. “Você está tentando chamar a atenção de uma maneira muito fácil, mas se você quiser meu respeito e chamar minha atenção de uma forma relevante, aprenda a tocar piano”. Para tocar piano bem, são só dez anos de esforço com oito ou dez horas por dia de estudo. Esse sim é um valor real que chama a atenção. As drogas são assim, um caminho fácil para uma experiência psíquica que você não domina, que não tem um valor intrínseco e que só serve para mostrar que é possível distorcer a percepção. Você não é dono da experiência. Eu nunca vi um drogado iluminado, muito pelo contrário, só vejo drogados mergulhados em mundos infernais. Na minha opinião, Buda tinha razão em proibir enfaticamente esse tipo de experiências. Temos uma excelente experiência para mudar a mente - sentar na almofada. Sente na almofada por dez mil horas e poderá ganhar o mesmo domínio que o pianista tem sobre o teclado.





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