Sutra de Lótus: Um tratado sobre a vida e o Universo
Budismo

Sutra de Lótus: Um tratado sobre a vida e o Universo


O Sutra do Lótus (ou Saddharma-pundarika Sutra em sânscrito) é um dos mais importantes textos do Budismo Mahayana, utilizado amplamente por religiosos da China, Coréia, Japão e de outras regiões do Leste Asiático. Na China, ele é chamado Miao-fa lien-hua ching, ou Fa-hua Ching, e no Japão, Myoho-renge-kyo, ou Hokekyo.




Não se sabe exatamente quando foi escrito ou em que idioma. A razão para isso é que, nos primeiros anos do budismo, os ensinos eram transmitidos apenas oralmente, de uma geração a outra. Escrever não era considerado uma ocupação digna, ficando a escrita reservada apenas para transações comerciais e não para tradições religiosas. Contudo, acredita-se que o Sutra do Lótus tenha sido escrito pela primeira vez em algum dialeto da Índia ou da Ásia Central e posteriormente vertido para o sânscrito, a língua clássica da Índia antiga, o que lhe teria dado maior respeitabilidade.
Acredita-se também que o Sutra do Lótus tenha sido escrito em dois tipos de sânscrito, o “puro” (que segue as regras estabelecidas pelo gramático Panini) e o “híbrido budista” (que mistura o sânscrito com o prácrito, um dialeto popular da Índia antiga). O que se sabe ao certo é que o Sutra de Lótus já existia por volta do ano 255 d.C., quando foi feita a primeira versão para o chinês.
Acredita-se também que tenha havido pelo menos seis traduções para o chinês, das quais são conhecidas três: a primeira de Dharmaraksha, escrita no ano 286 em dez volumes e 27 capítulos; a segunda, de Kumarajiva, por volta do ano 406; e a terceira, de Jisanagupta e Dharmagupta, feita em 601, escrita em sete volumes e 27 capítulos. Mas foi a tradução feita por Kumarajiva, a melhor de todas, que popularizou esse texto, não somente na China mas em várias outras regiões que mantinham relações com esse país.
Na Índia, Nagarjuna citava com freqüência o Sutra do Lótus em seu Daitido Ron (Tratado sobre o Sutra da Perfeita Sabedoria) e Vasubandhu escreveu um comentário sobre esse sutra intitulado Kusha Ron (Tratado sobre o Sutra do Lótus)Ao longo dos séculos, o Sutra do Lótus foi também traduzido para várias línguas, como o tibetano, o mongol, o manchu, o coreano e o japonês, entre outras. No Ocidente, a primeira tradução foi para o francês, feita por Eugène Burnouf em 1852. A primeira tradução para o inglês do Sutra de Lótus foi feita pelo pesquisador holandês Jan Hendrik Kern em 1884, a partir de uma versão em sânscrito datada de 1039. Embora considerada uma boa tradução para a época, ainda não eram compreendidos muitos termos e expressões budistas e, assim, a tradução de Kern possui muitas inadequações consideradas à luz dos conhecimentos de hoje. Uma outra tradução mais aceita, embora incompleta, foi feita em 1930 por Bunno Kato, a partir de uma versão chinesa do texto de Kumarajiva, revisada pelo professor William Soothill. A versão em inglês oficialmente utilizada pela SGI foi elaborada pelo professor Burton Watson, da Universidade de Columbia, feita a partir de um texto em chinês e de um em japonês.


Ao longo dos séculos, o Sutra do Lótus foi também traduzido para várias línguas, como o tibetano, o mongol, o manchu, o coreano e o japonês, entre outras. No Ocidente, a primeira tradução foi para o francês, feita por Eugène Burnouf em 1852. A primeira tradução para o inglês do Sutra do Lótus foi feita pelo pesquisador holandês Jan Hendrik Kern em 1884, a partir de uma versão em sânscrito datada de 1039. Embora considerada uma boa tradução para a época, ainda não eram compreendidos muitos termos e expressões budistas e, assim, a tradução de Kern possui muitas inadequações consideradas à luz dos conhecimentos de hoje. Uma outra tradução mais aceita, embora incompleta, foi feita em 1930 por Bunno Kato, a partir de uma versão chinesa do texto de Kumarajiva, revisada pelo professor William Soothill. A versão em inglês oficialmente utilizada pela SGI foi elaborada pelo professor Burton Watson, da Universidade de Columbia, feita a partir de um texto em chinês e de um em japonês.
De qualquer forma, todas essas traduções auxiliaram a popularizar o Sutra do Lótus no Ocidente, vindo a estabelecer-se como um importante texto da literatura mundial. Em todo caso, é digno de menção a grande dificuldade de se traduzir o Sutra do Lótus, seja para o chinês ou para qualquer outro idioma, dada a complexidade de seus termos — muitos deles sem correlatos em qualquer idioma — de seus simbolismos e de sua complexa cosmogonia.
O termo sânscrito do título, saddharma, é traduzido usualmente como “boa lei”, mas essa tradução não expressa totalmente seu conteúdo. O termo sat, ou sad, provém da raiz sânscrita que significa “existir” e significa algo como “verdadeiro”, “real”, “genuíno” ou “autêntico”. O termo dharma pode ser traduzido como “doutrina” ou “ensino”, mas também pode ser interpretado como “verdade” ou até mesmo como “essência real dos fenômenos”. Juntando-se os dois termos, saddharma, o resultado seria algo como “verdade absoluta”.
Pundarika significa “lótus branco” (no sânscrito, flores de lótus de diferentes cores possuem diferentes nomes). Dessa forma, o título desse sutra seria “Lótus Branco da Verdade Absoluta”. Esse título remete à idéia de que, embora o lótus cresça no pântano, as pétalas de suas flores são puras e imaculadas. Assim, a flor de lótus é um símbolo de pureza em meio à impureza, ou da iluminação em meio às questões seculares.
Já “sutra” é um termo que designa antigos tratados da Índia.



A tradução de Kumarajiva existente atualmente divide o Sutra do Lótus em 28 capítulos, os quais consistem de uma combinação de um texto em prosa (escrito originalmente em sânscrito “puro”) e um texto em versos (escrito originalmente em sânscrito “híbrido budista”). Os versos eram utilizados antigamente para facilitar a memorização dos ensinos pelos seus seguidores. É provável que a parte em prosa tenha sido acrescida posteriormente para tornar o texto uma narrativa contínua, originando sua forma final.
Antigamente, quase todos os sutras budistas iniciavam com a frase “Assim eu ouvi”. Acredita-se que esse início servia para indicar que um ensino do Buda se seguiria. A pergunta que se pode fazer é “quem ouviu?”. De acordo com uma tradição budista, o ouvinte seria Ananda, primo de Sakyamuni e um de seus discípulos. Outra explicação para essa frase é a de que cada pessoa é um ouvinte, indicando que todos possuem inerentemente a natureza de Buda.


O erudito chinês Tient’ai (537–597), um dos grandes estudiosos do budismo, fundador da escola Tendai e organizador do cânone budista, foi um dos maiores propagadores do Sutra do Lótus na China. Em seu Hokke Guengui (Profundo Significado do Sutra do Lótus), Tient’ai formulou uma classificação comparativa entre todo o conjunto de sutras dos chamados cinco períodos e oito ensinos e considerou o Sutra do Lótus como o mais importante de todos os sutras. Com base no Sutra do Lótus, Tient’ai escreveu também mais duas importantes obras: Hokke Mongu (Palavras e Frases do Sutra do Lótus) e Maka Shikan (Grande Concentração e Discernimento).
Em 804, o monge Saityo, também conhecido como Grande Mestre Dengyo, levou o budismo da escola Tendai para o Japão. Dengyo acreditava que todas as pessoas possuíam a natureza de Buda e que o Sutra do Lótus era o verdadeiro ensino que expunha a iluminação.
Mas coube a Nichiren Daishonin (1222–1282), fundador do Budismo Nichiren, revelar a verdade intrínseca ao Sutra do Lótus, especificamente em seus capítulos “Meios” (Hoben) e “Revelação da Vida Eterna do Buda” (Juryo) e manifestá-la pela invocação de seu título em japonês, estabelecendo assim a prática da recitação do Nam-myoho-renge-kyo.
Daishonin, que constantemente utilizava passagens do Sutra do Lótus ao expor seus ensinos aos seguidores e para escrever suas cartas, conhecidas como Gosho, baseava-se nos comentários sobre o Sutra de Lótus feitos por Tient’ai. Em várias de suas passagens, ele cita frases e parábolas do Sutra do Lótus, muitas vezes num linguajar simplificado tornando, assim, mais acessível a compreensão dos ensinos contidos nesse sutra.
Fonte: Edição 407 - Publicado em 01/Julho/2002 - Página 3
Grato a Anne Almeida pela matéria.






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