Budismo
O DHAMMAPADA - O BRÂMANE - BRÂHMANAVAGGA
Nesta parte final do Dhammapada, O Iluminado descreve as características, atitudes e comportamentos, que fazem de uma pessoa um verdadeiro Brâmane, e nega, através do verso 393. "Não são os cabelos trançados, a linhagem ou o nascimento que fazem de um homem um brâmane. Mas naquele onde a Verdade e a Virtude existem, (61) este, sim, é um puro, é um brâmane. (61) Aquele que realizou as Quatro Nobres Verdades." e do verso 396. "Não chamo brâmane o que, de origem, é de casta bramânica, (63) ou nascido de mãe bramânica, que é orgulhoso e arrogante. Aquele que é puro e a nada se apega, a este chamo-lhe brâmane." o sistema de transmissão hereditária das castas, colocando sempre em primeiro lugar a herança de nossas ações.
XXVI
O BRÂMANE - BRÂHMANAVAGGA
383. Luta com energia, ó brâmane. (59) Corta a correnteza (dos desejos), deixa para trás os desejos sensuais. Chegando à destruição de todos os constituintes da existência composta, ó brâmane, conhecerás o incriado (Nirvana).
(59) Brâmane: na terminologia budista é um homem que leva a vida pura e ascética, sem pecados (com os sentidos controlados); às vezes empregado como sinônimo de Arahant, ou Buda.
384. Quando o brâmane alcança o cume dos dois caminhos* (concentração e visão interior), todos os grilhões caem por terra e, então, conhece a Realidade.
* O cume dos dois caminhos: refere-se ao cultivo da meditação budista, sintetizada na nota explicativa do versículo 249.
385. Aquele para quem não existe esta margem ** (bases internas dos sentidos), nem outra margem
(bases externas dos sentidos), nem ambas (o eu e o meu), que está além do temor e sem grilhões,chamo-lhe eu um brâmane.
** Bases internas e externas dos sentidos: veja nota 52, versículo 339.
386. Aquele que é meditativo e sem mácula, que se aquietou, fez o que devia fazer, está livre das corrupções e atingiu a mais alta realização, chamo-lhe um brâmane.
387. Brilha o sol durante o dia: à noite brilha a lua: brilha o guerreiro na sua armadura, brilha o brâmane na meditação; mas, dia e noite, o Buda sempre brilha, resplandecendo tudo.
388. É brâmane o homem que corajosamente baniu o mal; sâmana (recluso) o que é sereno em sua conduta; e monge o que de suas impurezas se purgou.
389. Que não se use de violência para com o brâmane; que o brâmane não use de represália; vergonhoso é agredir um brâmane, vergonhoso o brâmane que reage.
390. O maior bem para o brâmane é o domínio da mente sobre os prazeres da vida. Toda vez que o desejo é contornado, o sofrimento é aplacado.
391. Aquele que não fere em atos, palavras e pensamentos, que se controla neste Tríplice Caminho (60) , chamo-lhe brâmane.
(60) O Tríplice Caminho: compreende as três partes do Caminho Óctuplo, a saber:
I - oralidade - Sila: 1) palavra correta; 2) ação correta; 3) meio de vida correto.
II - Disciplina Mental, Meditação - Samâdhi: 4) esforço correto (mental): 5) plena atenção correta: 6) concentração correta.
III - Introspecção - Sabedoria - Pannâ: 7) pensamento correto; 8) correta compreensão
392. A quem vos faça conhecer o Dhamma (Doutrina) tal como o divulgou o Supremo Iluminado, rendei-lhe homenagem e veneração, como o brâmane reverencia o fogo do sacrifício.
393. Não são os cabelos trançados, a linhagem ou o nascimento que fazem de um homem um brâmane. Mas naquele onde a Verdade e a Virtude existem, (61) este, sim, é um puro, é um brâmane.
(61) Aquele que realizou as Quatro Nobres Verdades.
394. Para que te servem os cabelos trançados e o manto de pele de antílope com que te abrigas, ó insensato, se ocultas uma selva de paixões no coração e teu aspecto é só aparência!(62).
(62) Aparência: refere-se a cerimônias externas, rituais e observância, fazendo alusão à necessidade da Introspecção, ou purificação mental, e não de efeitos externos.
395. Aquele que humildemente usa um manto pamsukula (retalhos amarelos de roupa usada), emagrecido, de velas visíveis e salientes recobrindo o corpo e que medita solitário na floresta, a este chamo-lhe brâmane.
396. Não chamo brâmane o que, de origem, é de casta bramânica, (63) ou nascido de mãe bramânica, que é orgulhoso e arrogante. Aquele que é puro e a nada se apega, a este chamo-lhe brâmane.
(63). Acasta bramânica era considerada a classe mais alta, divinamente privilegiada, independentemente de méritos.
397. Aquele que, tendo quebrado todos os seus vínculos, nada mais teme, desapegado e liberto de tudo, a este chamo-lhe brâmane.
398. Quem se livrou da correia do ódio, da venda do desejo, da corda do ceticismo, juntamente com o complemento das tendências más latentes, e que levantou a tranca dos obstáculos da ignorância, que é iluminado - chamo-lhe eu um brâmane.
399. Aquele que, inocente, sem ressentimento sofre injúrias, violências e castigos, cujo poder é realmente a paciência - chamo-lhe eu um brâmane.
400. Aquele que, isento de cólera, confiante aos seus votos, é virtuoso e sem desejos, que é controlado e suporta seu último corpo - chamo-lhe eu um brâmane.
401. O que aos prazeres sensuais não mais se apega do que a folha de lótus à gota d'água , ou que à ponta da agulha o grão de mostarda - chamo-lhe eu um brâmane.
402. Ao que, nesta vida, realizou o termo de seus sofrimentos e se libertou do seu fardo (cármico), estando completamente liberto, chamo-lhe eu um brâmane.
403. Aquele cujo conhecimento é profundo, que é sábio, perito em discernir o verdadeiro do falso
caminho, que realizou o mais alto grau da iluminação - chamo-lhe eu um brâmane.
404. Aquele que se mantém afastado dos leigos e dos pseudo-monges, segue solitário, sem moradia, tendo poucas necessidades - chamo-lhe eu um brâmane.
405. Quem a nenhum ser vivo fraco ou forte prejudica, que não destrói, nem concorre para destruir vidas - chamo-lhe eu um brâmane.
406. Tolerante entre os intolerantes, sereno entre os violentos, desapegado entre os interesseiros chamo-lhe eu um brâmane.
407. Aquele que da sensualidade, do ódio, do orgulho e da hipocrisia se desprendeu, como da ponta da agulha o grão de mostarda - chamo-lhe eu um brâmane.
408. O homem sereno que sem evocações profere palavras instrutivas e verdadeiras - chamo-lhe eu
um brâmane.
409. Aquele que não se apodera de coisa alguma que não lhe seja dada, longa ou curta, pequena ou grande, boa ou má - chamo-lhe eu um brâmane.
410. Aquele que não aspira mais a desejos neste mundo nem no outro, livre do desejo, Emancipado chamo-lhe eu um brâmane.
411. Aquele que a mais nada se apega, através do Perfeito Conhecimento, que está liberto das dúvidas (livre do “porquê”) e realizou a imortalidade (Nirvana) - chamo-lhe eu um brâmane.
412. Aquele que neste mundo transcendeu os entraves do bem e do mal (condicionamentos), liberto do sofrimento, imaculado e puro - chamo-lhe eu um brâmane.
413. Aquele que, como a lua, é imaculado e puro, claro e sereno, que destruiu os grilhões dos desejos
que nos prendem à existência contínua (64) - chamo-lhe eu um brâmane.
(64) Desejos que nos prendem à existência continuada (Bhava-nandi). Bhava significa a tríplice esfera da existência: a sensualidade, a esfera do mundo das formas - Rupabrahmas - e a esfera do mundo sem formas - Arupabrahmas; Nandi significa o apego a deliciar-se nessas esferas.
414. Aquele que atravessou esta lamacenta, perigosa e ilusória roda da existência continuada (samsâra), que alcançou a outra margem, que é meditativo, calmo e livre das dúvidas e dos apegos, que realizou o Nirvana, chamo-lhe eu um brâmane.
415. Este, que abandonou os prazeres deste mundo e renunciou à vida familiar, tornando-se solitário sem morada, que destruiu os desejos sensuais e de existência continuada - chamo-lhe eu um brâmane.
416. Este, que abandonou os prazeres do mundo e renunciou à vida familiar, tornando-se um solitário sem morada, que destruiu os desejos e extinguiu a sede de vir-a-ser - chamo-lhe eu um brâmane.
417. Aquele que se libertou do vínculo terrestre e afastou o laço celestial, que está realmente liberto de todos os jugos - chamo-lhe eu um brâmane.
418. Aquele que extinguiu o prazer e a dor, que sereno, desfez-se das causas dos renascimentos (65) e conquistou todos os mundos (66), este herói, chamo-lhe eu um brâmane.
(65) Causas dos renascimentos: os cinco skandhas, agregados que constituem o ser: matéria, sensações, percepções, formações e consciência; nas dez imperfeições ou impurezas da mente, que têm atividades cármicas: agindo pelo corpo - matar, roubar e fazer mau uso dos prazeres sensuais; agindo pela palavra - mentir, dizer palavras vãs, dizer palavras pesadas e difamar: agindo pelo pensamento - luxúria, ódio e dúvida cética ou discursiva.
(66) Conquistar todos os mundos: os cinco agregados (skandhas) constituem o mundo no verdadeiro sentido, subjetivamente e objetivamente. Aquele que cortou o curso dos renascimentos e que, portanto, parou a continuidade dos cinco skandhas é um verdadeiro vitorioso do mundo.
419. Aquele que realizou o perfeito conhecimento do processo do desaparecer e surgir (67) de todos
os seres, de tudo desapegado e chegou ao fim da jornada, iluminado - chamo-lhe eu um brâmane.
(67) O processo do surgir, desaparecer e ressurgir, ou bases do vir-a-ser - upadhi -, é formulado na Lei da Originação Interdependente, ou Roda da Vida: consta de 12 Nidanas:
1. Por causa da ignorância, há individualidade, ilusão do eu.
2. Através da individualidade estão condicionadas as ações volitivas, ou formações cármicas.
3. Através das ações volitivas (cármicas), surge a consciência, ou conhecimento.
4. Por causa da consciência, há nome e forma separados.
5. Por causa do nome e forma separados, há os seis sentidos.
6. Por causa dos seis sentidos, há o contato.
7. Por causa do contato, há sensação.
8. Por causa da sensação, há desejos.
9. Por causa dos desejos, há apego.
10. Por causa do apego, há existência individual.
11. Por causa da existência individual, há existência terrena.
12. Por causa da existência terrena, há decadência e morte.
420. Aquele cujo rastro é desconhecido dos deuses, anjos e mortais, que está livre de todas as imperfeições e tornou-se um Arahant - chamo-lhe eu um brâmane.
421. Aquele que a nada se apega do passado, presente e futuro, nada possuindo nem querendo possuir - chamo-lhe eu um brâmane.
422. O Nobre por excelência, o Herói, o Sábio Onipotente, o Vitorioso, o Impassível, O Puro, o Iluminado (68) - chamo-lhe eu um brâmane.
(68) Descrição de um Buda e seus títulos.
423. Aquele que conhece suas vidas passadas, que conhece as alegrias celestiais e as tristezas do inferno, que chegou ao término dos nascimentos, o sábio que, pela perfeição da Visão Interior, realizou a Suprema Realização - Chamo-lhe eu um brâmane.
Fonte: http://www.radionovoshorizontesfm.com/caminhodoceu/recomendo/dhammapada.pdf
imagem: http://minhhanhdp.brinkster.net/KINH_PHAP_CU_GIANG/Kinh_Phap_Cu_Trang26b.html
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